Há cerca de três meses, quando comecei a postar neste blog, prometi a mim mesmo que, por aqui, eu "daria um tempo" do jornalismo. Me propus a escrever sobre mim, sobre o que penso, sobre observações e reticências do mundo. Mas hoje resolvi quebrar a rotina - aliás, cada dia mais corrida! - para dividir com vocês o dia em que decidi ser jornalista. E lá se vão uns 11 ou 12 anos, se bem me lembro.
Para começar, vou dizendo logo: a culpada é a Glória Maria! Sim, confesso. A mesma que é apontada, nas faculdades (pelo menos, na minha era) como o pior exemplo de jornalismo do país. Estávamos em meados de 2000, e até então, eu já havia pensado de tudo um pouco sobre o futuro. Ator de novelas, autor de novelas, professor de Língua Portuguesa... até mesmo psicólogo pensei em ser, mas nunca tive paciência para estudar a função das mitocôndrias, etc etc etc.
Pois bem... eis que surge, na TV, uma matéria sobre vulcões. Não me lembro onde, nem o porquê da pauta, mas lá estava Glória Maria, agachada sobre um rio de lava, "futucando" o magma fervente com um pedaço de madeira. Pronto! Meus olhos brilharam, meu coração acelerou e, num ímpeto, pensei: "É isso que quero fazer o resto da minha vida!". Não, eu não queria ver vulcões, muito menos tomar 110 cápsulas rejuvenescedoras por dia. Quis - e continuo querendo - a loucura de viajar, de conhecer o que parece distante, de "futucar" coisas que nenhuma outra profissão me permitiria.
Decidi ser jornalista aos 15 anos, portanto. E passei a adolescência toda dizendo isso aos professores de Química, Física e Matemática. Nunca fui, e continuo não sendo bom em cálculos. As exatas me parecem tão frias, distantes. A família dos gases nobres, a tração das roldanas, os catetos e hipotenusas nunca fizeram sentido pra mim. No entanto, as letras sempre me fascinaram. O som das palavras, a construção de uma frase de impacto. Muitas delas escrevi a mão, e estão guardadas em pastas sobre meu guarda-roupas. Talvez um dia eu as publique.
O jornalismo me trouxe a Vitória. Me tirou de Colatina (hoje sinto saudades da família, acho que deveria ter curtido mais) e me ensinou que tudo, absolutamente tudo, tem dois lados. Às vezes três. Até quatro. Abriu meu olhar para um horizonte infinito. Me trouxe rostos, relatos, histórias de vida (e de morte) que nenhuma ciência exata, se delas eu gostasse, me traria. O jornalismo me permite acordar todos os dias querendo fazer da minha vida uma nova história, porque sei que, adiante, vou ter que lidar com o desconhecido.
No início, divido hoje com vocês, eu não sabia a diferença de Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Rodoviária Estadual (PRE) ou Guarda de Trânsito. Fábio Botacin, hoje um grande amigo, fez um mapinha primário e me ditou a regra: a primeira fala de rodovias federais, a segunda de estradas estaduais, e a última, das ruas da cidade. Primeiro e inesquecível aprendizado.
Não me lembro, ao certo, meu primeiro flash ao vivo na rádio. Estava no ar o CBN Cotidiano, ainda apresentado por Hemerson Costa (em 2007), quando uma tempestade derrubou a rodoviária de João Neiva. Um ouvinte ligou apavorado e eu - ainda estagiário - atendi o telefone. Em menos de dez minutos eu estava no ar, relatando aos ouvintes as primeiras informações. Nunca me esquecerei daquele dia, porque foi quando eu aprendi que ser jornalista é muito mais que escrever bem. É saber ouvir a rádio ao vivo, prestar atenção na TV ligada e manter a concentração para fazer entrevistas por telefone. Ao mesmo tempo!
Tenho várias histórias para contar... parando para pensar, vejo que muita coisa já aconteceu. Já entrevistei gente desabrigada, gente da alta sociedade, padres, pastores, pais-de-santo. Ouvi palestras intermináveis, corri atrás (literalmente) da notícia quando ônibus eram incendiados, me vi no meio de protestos com pneus queimados, falei com governadores e manifestantes. Já ouvi insultos na rua, mas também já recebi e-mails de ouvintes que, ajudados por uma simples informação, conseguiram algo bom.
Não me arrependo da minha escolha precoce. Ainda não fiz uma viagem internacional, não passei sequer perto do magma, mas aprendi a "futucar" histórias e a não me calar diante de respostas mal dadas. Sinto um friozinho na barriga quando a pauta inspira mais cuidado, e desando a falar quando me pedem mais fôlego ao vivo. Ainda tenho muita estrada pela frente, é bem verdade. Mas o importante é que o primeiro passo foi dado. Um dia eu chego aos vulcões!
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Caros leitores,O "Fachettoides" está com escassas atualizações por causa deste vício chamado JOR-NA-LIS-MO. Tenho passado, em média, 14 horas por dia na redação. Pela manhã, vocês podem me acompanhar na CBN Vitória (93,5 FM) ou no www.gazetaonline.com.br/cbn. À tarde, até o fim de julho, estou na equipe de Política do jornal A GAZETA. Desculpem-me a ausência, e espero tê-los aqui comigo quando as atualizações voltarem à regularidade.