domingo, 3 de maio de 2020

E depois de tudo isso?


Passaram-se mais de três anos desde o último texto. Um hiato que acomoda incontáveis histórias, sentimentos, perdas e conquistas. Tanta coisa mudou desde então, que não saberia nem por onde começar, não fosse um estalo no meio de um filme que via há pouco - um dos tantos que tenho visto desde que uma pandemia obriga a mim e a tantas outras pessoas a trancafiarem-se em casa.

Não sabemos quando isso vai passar, e nem como é que vai passar. As últimas seis (ou á são sete?) semanas nos empurram um carrossel de emoções goela abaixo, e nos obrigam a entrar em contato forçado com o mais íntimo que há em nós. E a pergunta que martela é: e depois de tudo isso?

Você vai conseguir admitir que muitas vezes seu sorriso riu, mas seus olhos o desmentiram?
O que fará com aquelas fotos velhas, em que você já não se reconhece mais?
Quando você olha no espelho, você gosta do que você vê refletido?

Depois de tudo isso, quando notar que Photohop não apaga o passado, você ainda se lembrará de quem era no começo de março ou será capaz de entender o que te levou a fazer o que fez um ano antes? Aliás, quem era você antes de tudo isso?

Depois de tantas semanas de imersão consigo, talvez seja preciso dar o braço a torcer e perceber que nem sempre o tempo te traz sua melhor versão. Você se torna o que foi possível ser. Não se esqueça de que ninguém deita no travesseiro o peso da sua cabeça e da sua consciência.

Será preciso ter fé para (voltar a) acreditar.
Será preciso ter coragem para admitir que não há mais o que admitir
Será preciso manter o fôlego quando aquele aperto no peito surgir sem pedir licença, te lembrando que você é humano, que falha e que tudo bem chorar
Será preciso seguir, mesmo que você não saiba para onde

Depois de tudo isso, tudo isso será só o começo.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Você escolhe a quem seguir


Fato concreto: meu irmão deixou de me seguir no instagram. Isso, por si só, poderia desencadear em mim diversas perguntas - o que eu fiz? por que? há algo errado? - mas, em vez de questionamentos que nunca teriam respostas (na verdade, teriam e bem sei quais), decidi, desta vez, que era melhor deixar para lá. 

Num mundo ideal, de família perfeita, papai, mamãe, irmãos, cachorro... um "unfollow" poderia muito bem ser o prenúncio de uma crise. Mas, vejamos, que mundo ideal existe hoje? As pessoas já não conversam como há anos, ser "próximo" de alguém virou sinônimo de curtir todas as fotos expostas, as ruas estão em convulsão e cada um quer mais é viver em sua própria bolha, com olhos na tela do celular e dedos prontos para respostas mecânicas. E olha que eu nem entrei no mérito de, por aqui, não haver papai, mamãe nem irmãos perfeitos.

Fato é que meu irmão deixou de me seguir porque não tem interesse no que eu mostro às pessoas sobre mim. Ponto. Assim como, há meses, deixou de me interessar a vida de outros parentes, por motivos diversos, e nem por isso carrego um piano de culpa nas costas. O fato de eu não ser seguido por alguém que, em tese, deveria me amar e se felicitar com minha felicidade faz desse alguém uma pessoa ruim? Não. É só uma questão de afinidade, de visão de mundo, de vibe, sei lá!

Por mais que minha visão romântica-idealista-canceriana de mundo e de relações grite lá no fundo "reaja! reaja!", o que vejo com cada vez mais constância é que estamos entrando (ou já entramos?) numa era de só querer conviver com o que nos parece bonito. O contraditório perdeu espaço (e sentido?) diante de tantas opções de realidade semelhantes àquelas com as quais sonhamos e compactuamos. É mais cômodo que cada um tenha seu próprio universo individual, que configure sua bolha de relacionamentos de modo a nunca se aborrecer ou torcer o nariz.

Me pergunto somente se essa bolha um dia vai estourar ou se, um dia, cada um de nós vai se mostrar disposto a, como antigamente, olhar para o horizonte. Por enquanto, as cabeças inclinadas de olho nas polegadas que cabem na palma da mão parecem interessantes. E depois disso, o que virá? Teremos amigos, parentes, laços de amizade, sensações e desejos que nos façam viver a vida fora do touch screen?

É uma questão de escolha.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Vamos falar de 2016?

2016, ano par. De começo, parecia que seria uma maravilha. A virada foi boa, astral nas nuvens, sete ondinhas puladas, amigos queridos por perto. Os primeiros dias foram ensolarados, a expectativa no trabalho para um ano de eleições fazia tudo que estava por vir se anunciar positivamente. Mas aí 2016 mostrou a que veio.

Que ano, hein?! Ou melhor: que ano bosta, hein?! O país virou do avesso, a economia andou para trás (é bem verdade que já vinha de marcha-ré desde 2015) e foi difícil acordar e ir dormir sem um sobressalto no meio do caminho. Dois mil e dezesseis teve de tudo: seca, falta d'água, ataques terroristas, intolerância, inflação, morte de gente querida, falta de reajuste salarial, passaralho, Cunha, Dilma, Michel Temer... socorro!

Não foi pouca notícia ruim, não. E pior é que, fora do noticiário, a realidade também não se mostrou nada amiga. Em 2016 Vovó Santa quebrou o fêmur, deixou de andar, tornou-se totalmente dependente dos outros para coisas básicas - banho, higiene, escovar os dentes, pentear os cabelos -; o Parkinson avançou, as finanças da casa deram um nó (só quem tem um idoso em casa, ou por perto, sabe o gasto que dá!) e, como desgraça pouca é bobagem, a família linda-perfeita-temente-a-Deus-que-adora-falar-de-amor-no-Facebook fingiu que não era com ela e cada um continuou no seu quadrado. Eduardo? Vovó Santa? Ah, "está todo mundo apertado", ou "todo mundo tem filho, marido para cuidar, e você só tem ela". É por aí.

Continuo pensando que Deus sabe o que faz. Ou, na pior das hipóteses, que Ele sabe a hora de pesar a mão em quem merece. Deixe estar. 

Mas antes que pensem que 2016 foi só tragédia por essas bandas, não foi: em maio reencontrei o rumo do meu coração e, desde então, acordo e durmo tendo motivo para sorrir, para fazer planos e tentar ser uma pessoa melhor. A vida me reservou esse espaço de felicidade em meio ao caos, de tal forma que pode estar caindo o mundo lá fora, mas eu sei que terei abraços capazes de apagar toda tempestade e me transportar para um mundo melhor, mais sincero, afetuoso e verdadeiro.

Em julho veio outra surpresa: um filho. Calma... um filho canino (ou cachorrístico, como prefiro dizer). Lipe chegou para mudar o ambiente da casa; para me fazer sentir um afeto que há tempos não sentia. Um cachorro vira-latas sem-vergonha, serelepe, comedor de sofá, de rodapé, de lençol, latidor e dramático que me enche de amor. Tudo bem que, dependendo da pirraça que ele faz, minha vontade é jogá-lo ao relento novamente (até faço essas ameaças, como se ele me entendesse), mas na mesma hora volto atrás e aceito-o como é. Afinal, nos escolhemos do jeito que somos.

O saldo de 2016 é difícil de contabilizar. Houve perdas irreparáveis, distâncias que se acentuaram, máscaras que caíram e feridas que se abriram que tão cedo não vão parar de doer. Mas também houve vitórias importantes; sobrevivi às eleições municipais, ao terremoto político de Brasília, o coração vai bem, obrigado, e as quatro patas de Lipe são motivo de muita alegria por aqui.

O ano foi difícil. Foi pesaroso. Definitivamente, não foram meses para amadores ou fracos. Mas só de passar por tudo isso já está bom. Quem sabe em 2017 a vida nos permita mais leveza? Vamos esperar...