
Não é fácil seguir adiante quando a bicicleta passa a ter, de repente, apenas duas rodas. Sem a ajuda das rodinhas auxiliares, com o guidon meio frouxo, equilíbrio distante para quem visa quilometragens de aventuras infância afora. Mas basta um pouco de prática, joelhos ralados, queixo batido no asfalto, se aprende a girar os pedais em liberdade absoluta de movimentos.
Não é fácil deixar o Ensino Fundamental. Os colegas que cresceram juntos, as piadas bobas entre aulas de Ciências, Estudos Sociais, História e Artes. Ficam as marcas da tinta guache (e seu cheiro característico), as assinaturas em uniformes da infância, as corridas de pique-pega pelo pátio da escola. Laços construídos desde os primeiros anos de vida; a primeira namoradinha psicológica, as primeiras paixões platônicas, as brigas, cachorro-quente na cara, medalhas de honra por notas máximas no boletim. Isso também fica para trás.

Não é fácil tomar decisões. Ser um caranguejo que, por natureza, se apega ao que passou, mas que luta contra a própria natureza para seguir adiante, evitando os buracos escavados na areia por outros nem sempre tão bem intencionados. Não é fácil separar o coração da razão, o fato do boato, a oportunidade do novo e o confortável conhecido. Não é fácil dizer adeus.