domingo, 9 de fevereiro de 2014

Reencontre-se

Quem nunca remexeu em caixas antigas, com coisas guardadas, dedos de poeira acumulados, não sabe o que é reencontrar-se com o que já foi. Cartas que já foram lidas, cujas folhas amarelaram com o tempo, trazem de volta letras, declarações e sentimentos que outrora nos modificaram. Brinquedos, objetos, lembrancinhas de festas de décadas atrás nos transportam, de imediato, para tudo aquilo que já se viveu. Sorrisos ressorriem, emoções se renovam. E ninguém deixa de ser o que é por isso.

Experimentar esse reencontro é algo que renova a alma. Pode parecer estranho, visto que renovação não combina com quinquilharia, mas é por aí. O velho uniforme da escola, assinado por colegas do Ensino Fundamental, mesmo que cheire a guardado e tenha manchas por todos os lados pelo desuso acumulado, é capaz de te dar um cutucão na memória e te fazer pensar em quantas vezes correu pela quadra, jogando futebol (não era meu caso, tá?!), em quantas vezes "ficou de mal" com fulaninho e fulaninha só porque não pôde usar a cartolina ou a "caneta Pilot" no trabalho em grupo. Mais que isso: te leva a uma viagem que inclui apelidos, brincadeiras, cheiros e sabores do lanche da cantina.

O mesmo vale para álbuns de fotografia. O menino gordinho e bochechudo que nem se parece com você, hoje paranoico por dietas, ou a garotinha de cabelos cacheados e dentes protuberantes, cuja imagem se distancia da mulher de cabelos lisos e sorriso branco que hoje existe, são parte dessa história. A tia engraçada que está na foto, hoje não está mais na família. O tio que era magro e hoje é obeso. As fotos do Natal, farto, cheio de doces e crianças de boca cheia. Lembra disso? Vai dizer que você nunca roubou um brigadeiro, um cajuzinho, um bombom Serenata, às escondidas, pelo simples prazer de estar ferindo a regra?

Reencontrar o passado é gostoso. Faz lembrar a época em que estojos escolares tinham botões e fecho com ímã, e eram vendidos como "o futuro"; as borrachas eram cheirosas, as lapiseiras "Charmant" eram como relíquias, ir à casa do colega ver as duas fitas de Titanic lhe obrigava até a pôr roupa mais bonita - afinal, era um evento! - e o dia em que o parque chegava para a festa da cidade lhe fazia ter taquicardia de emoção. 

Ah, quantas pessoas nós já fomos um dia, não é?! Reconhecer essas fases, pôr frente à frente o ontem e o hoje é um exercício de saudosismo, mas também de gratidão, por tudo aquilo que nos ajudou a chegar até o presente. Ainda não experimentou isso? Experimente. Se não tiver velharias guardadas sobre o guarda-roupa, comece pelas cicatrizes na pele, pelas manchinhas de sol, pela unha que ficou torta depois de uma topada na quina do sofá. Uma coisa, eu garanto: depois desse encontro, você volta ao presente com a alma renovada. Tudo a ver com o domingo.

Um comentário:

  1. Verdade, principalmente quando essas lembranças trazem alívio e fazem com que você não queira voltar atrás, por nada :)

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