Me peguei pensando, assim como quem nada quer, o quanto é difícil, para todos nós, perder. Sobretudo quando o "perder" envolve sentimentos e rupturas, afinal, não conheço nenhuma pessoa que tenha despedido-se de alguém que amava sem enlutar. Dizer adeus, o adeus definitivo, dói profundamente. E mesmo tendo a morte como única certeza da vida (por mais paradoxal que seja), não há como passar por ela sem ver as cores do mundo transformadas em cinza.
A última semana, para mim, foi de muita reflexão sobre essa tal de morte. Completaram-se dois anos da partida de minha mãe. Não houve um adeus, uma carta, uma ligação sequer para que pudéssemos ao menos dizer uma palavra. Não houve doença nem sofrimento prolongado para que me preparasse para isso. Mamãe simplesmente se foi. Essa dor torna-se ainda maior ao lembrar-me de que a despedida (sem despedida) deu-se um dia após o aniversário dela. E naquele aniversário em que mamãe completou seus 54 anos, eu não telefonei para ela. Estávamos brigados.
Pensando em tudo isso, fui à igreja e rezei. Rezei pela mamãe, onde quer que esteja, e pela minha família. Pedi pelos meus amigos - os quais tantas vezes aqui já afirmei, sinto como partes de mim. E, céus, como é difícil aceitar que, mais dia menos dia, todos nos despediremos. Pouco passou e veio a notícia de que um grande amigo perdera o avô, no último sábado. Doeu como se fôssemos parentes. Calei-me num momentâneo luto por um avô que nem era meu, e pela tristeza de uma família que gosto como se dela fizesse parte.
A morte é algo tão forte e impactante que, confesso, não sei nem escrever sobre ela. Senti vontade de vir aqui, nesse cantinho em que eu sou só o Eduardo, sem o profissional Fachetti clamando por coerência, para por pra fora, em forma de letras, esse medo que me arrebata de perder quem gosto. Não consigo imaginar-me sem uma de minhas tias, tampouco sem a possibilidade de abraçar uma das primas que tanto amo. Perdoe-me, Deus, se peco, mas prefiro ir antes dos meus amigos a ter que despedir-me deles.
O avançar da idade de vovó Santa, já com seus 82 anos, me assusta. Tantas vezes já perdi o sono pensando no "amanhã". O que será de mim? Quem serei eu? Fico me questionando se vale tanto a pena trabalhar, trabalhar, trabalhar, na incerteza do que virá futuramente. Reconhecimento? Dinheiro? Prêmios? Quero, quero muito. Mas quero também a vida. Quero os dias com quem que amo. Quero tê-los por perto ou ao alcance do telefone, nem que seja para dizer um breve "estou com saudade".
Por mais que eu esteja falando de mim, algo me faz crer que você, aí do outro lado da tela, em algum momento também já se questionou e já sentiu o coração diminuir no peito ao imaginar-se sem os "seus". É fato: perder não é fácil. E antes que as coisas me escapem das mãos, antes que os dias passem e eu já não tenha a possibilidade de viver com quem amo, é preciso cuidar. Cuidar para que eu não me perca, nem perca um dia sequer sem explicitar meus sentimentos. Porque depois do adeus, só resta saudade e uma dúzia de frases guardadas no baú das lembranças que nunca foram realidade.
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