Sou noveleiro nato, nunca neguei. Uma das primeiras cenas que recordo, da infância, é da novela "Que Rei Sou Eu?", sucesso da década de 80. Pois bem, agora há pouco, findou na TV Globo "A Vida da Gente", trama das 18 horas que mostrou, com sensibilidade e leveza, as reviravoltas na vida de suas protagonistas. Sem apelar para vilões pérfidos, mortes em série ou humor pastelão, a novela agradou.
Não acompanhei-a como gostaria, é verdade. Às 18 horas, em geral, estou entretido em entrevistas e fechamento de matérias e pouco ou nenhum tempo tenho para prestar atenção à televisão. Mas "A Vida da Gente", mesmo à distância, me prendeu com seu contexto simples, que resumidamente é o seguinte: as histórias de todas as pessoas têm altos e baixos. Ninguém está certo 100% do tempo, tampouco erra a vida inteira. Convivemos com dúvidas e escolhas o tempo todo. E entre erros, acertos, encontros e desencontros, faz-se a vida.
Mas, não, não abri o blog para falar de novela (embora possa comentar centenas delas, algumas com riqueza de detalhes e impressões). Quero falar de gente. De gente que passa pelas nossas vidas ora na correria, ora no atropelo; histórias que se cruzam às nossas por um dia, dois... e muitas que acabam se juntando àquilo que somos e ficam para sempre.
Por exemplo: certa vez, ouvi de uma garota: "-Nossa história não terminou". E não se tratava de alguém que eu tinha em alta estima. Nem mesmo era alguém que fazia parte da minha vida. Foi, tão somente, uma pessoa com quem troquei dois ou três beijos, numa festa que já se foi há, sei lá, oito ou nove anos. Mas, sim, aquela história (para mim) terminou ali - muito embora quando eu veja fotos dessa garota em alguma rede social, acabo soltando um risinho de canto de boca, com um "quê" de molecagem guardada daqueles tempos...
Há, ainda, gente que eu conheci faz certo tempo, não dei importância e, numa dessas reviravoltas do destino, reapareceu para me arrebatar. Como é que, lá atrás, eu não notei aqueles olhos, aquela boca? Como, distraído, não dei importância às palavras de carinho a mim destinadas e deixei-as ir embora? Coisas que só lá na frente saberei (talvez) entender; agora só me cabe pensar e repensar no que não fiz, no primeiro ato, e o que quero que aconteça.
Creio, de forma modesta, que você, leitor, também tem suas histórias guardadas. Nem que seja da garotinha da escola de 1º grau que tinha o perfume mais cheiroso e encantador da turma ou, quem sabe, daquele beijo roubado na aula de Ciências, quando o professor foi atender à pedagoga no corredor. Na sua história - aposto! - tem espaço para o rancor guardado pelo amigo que beijou a garota que você gostava na adolescência e também para a lembrança envergonhada do dia em que seus amigos de faculdade tiveram que te carregar, embriagado, do bar.
A vida da gente é um turbilhão de sensações. Um sobe-e-desce de longo trajeto, uma sucessão de atos e omissões que nos definem. Como bem escreveu Lícia Manzo, a autora da recém-terminada novela das 18 horas, "tudo na vida muda (...). A única coisa que não muda é o tempo, que segue sempre adiante". Assim é. Não sabemos hoje o que será de nós amanhã. Não podemos desmanchar o que fizemos ontem. Resta-nos, portanto, ir andando com as pedras no sapato, com os calos doídos, com a cara dada ao vento para continuar em frente.
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