
Por que a gente deixa de dar um passo por simples e inexplicado receio? Quando olho para trás, vejo que um dos meus primeiros medos foi de tirar sangue. E eram inúmeras as vezes que eu tinha que encarar a agulha por problemas de saúde. Na década de 90, quando fiquei um ano internado no Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio, tinha que coletar sangue dia sim, dia não. As manhãs começavam com martírio e medo. Muito medo.
Depois, veio o medo de andar de bicicleta - e desse aposto que muitas pessoas sofreram. Abandonar as rodinhas do eixo traseiro foi difícil, eu não conseguia me equilibrar e ralhava comigo pelo fato de os colegas da rua, todos, já conseguirem guiar uma "magrela" por conta própria. Anos depois, meu medo foi o de encarar um aro 18 e cair como jaca no chão (e caí!).
Houve o medo de tirar zero, de não passar de ano, de decepcionar minha avó, de nunca perder os quilos a mais das férias, de não conseguir estágio, de não ser contratado na empresa, de amar e não ser correspondido, de não conseguir dinheiro para pagar a fatura do cartão de crédito... medos diferentes, em momentos distintos, mas que - veja só! - passaram pelo simples motivo de terem sido encarados.

Se eu nunca tivesse tirado sangue, jamais detectaria anemias e infecções que foram tratadas. Se não pedalasse, jamais teria descoberto o prazer do vento no rosto, a sensação de liberdade de ver o mundo passando mais rápido por mim. Os zeros que tirei... ah, doeram, é verdade, mas hoje rio deles. E rio até mais quando me lembro que por não passar de ano por dois anos seguidos em Matemática, no Cefetes, acabei com a matrícula cancelada.
Já tive que pagar juros pela fatura do cartão de crédito atrasada, já tive que trabalhar como assessor por não ter sido contratado onde eu queria, vivo numa eterna luta contra a balança e, como não sou perfeito, também já tive minhas paixões e amores equivocados. Não deixei de chorar, não deixei de sorrir, não deixei de ter medo, é claro.
Mas também não vou deixar de viver.