A despeito de todas as críticas e patrulhas ideológicas de todos os dias, o jornalista é, antes de tudo, um contador de histórias. Não de contos de fadas, onde as pessoas andam por vales verdejantes, com pássaros, borboletas, príncipes e sapatinhos de cristal. O jornalista escreve histórias corriqueiras, de encontros, desencontros, muitas lágrimas e também muitos risos.
Ser um contador de histórias requer mais que imaginação ou inspiração. É preciso olhar com cautela, com o mínimo de sensibilidade. Nossos personagens não dormem à espera do beijo de amor verdadeiro, não têm sete anões como amigos, tampouco tranças gigantes para fugir de castelos. Falar de gente de carne e osso é difícil.
Esta semana, em especial, li e escrevi histórias que pouco deviam a enredos fictícios. Acompanhei a tragédia de um povo analfabeto, sem postos de saúde adequados, sem estradas pavimentadas que viu seu chefe ir parar atrás das grades por desviar royalties de petróleo que poderiam fazer de sua cidade a mais rica e próspera do Estado.
Escrevi sobre a "ambiciosa" mulher que em 24 horas do dia, ocupava a Secretaria de Educação, a de Habitação e a de Assistência Social. Sobrinha do prefeito - acusado de chefiar uma quadrilha - ela não repetia roupas para trabalhar. Como uma verdadeira abelha rainha, mandava e desmandava no dinheiro do povo e no interesse de empreiteiros, políticos e aliados que formavam um enxame de corrupção.
Por fim, sofri com a angústia de cinco jovens que desapareceram misteriosamente rumo à Bahia. Isadora, Rosaflor, Marllon, Amanda e André deixaram o Norte do Espírito Santo para uma celebração de vida. Por quatro dias, seu desaparecimento transformou a vida de toda a população em angústia. Interrogações infinitas. Onde estariam? Por que não davam notícias? As correntes de oração se espalhavam pelas redes sociais enquanto as autoridades tentavam - por terra, água e ar - encontrá-los.
A espera não teve final feliz. Os protagonistas da história foram encontrados, há poucas horas, submersos em um rio no Sul da Bahia. Talvez jamais saibamos o que aconteceu nessa história. Do que falavam, o que ouviam, como despediram-se da vida? Não consigo imaginar a dor da mãe de Isadora, que comemoraria aniversário no dia da viagem sem volta da filha. Dói só pensar na angústia, na dor, nas respostas que jamais serão respondidas e significarão, para essas famílias, eternas lacunas.
O jornalista, como eu disse, é um escritor de histórias. Mas foge ao nosso controle o início, o meio e o fim dos enredos; mocinhos, vilões, bruxas e fadas confundem-se. Às vezes, em questão de horas, oscilamos do drama ao êxtase do ser humano. Para nossa frustração como autores, nem sempre é possível terminar a história com "viveram felizes para sempre". E, muitas vezes, terminamos nós, tristes, com o desfecho das histórias que contamos.
Que descansem em paz, Isadora, Rosaflor, Marllon, Amanda e André.
Brilhante! Belíssimo!
ResponderExcluirMuuuito bom. Parabéns, Eduardo!
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