Sabe sapato novo, que logo que você calça, pega um pouquinho ali, aperta um "cadinho" lá, tira uma casquinha acolá? Acho que ocorre o mesmo com a alma da gente. A cada novo relacionamento - e lá vem chavão! - aprendemos um pouquinho sobre como "encaixar melhor". E não estou falando de sexo.
O primeiro namoro geralmente é o All Star. Todo mundo tem um em alguma época da vida. É simples, inspira atitude, cai bem com qualquer coisa. No primeiro namoro, a gente se contenta com idas à sorveteria, ao cinema, acha o jeans+camiseta a mais bonita das produções. Mas sabe como é All Star, né? Machuca pra caramba, demora a "pegar o jeito". Se você exagera no sentimentalismo, se qualquer coisinha te incomoda, pode ser motivo para deixá-lo no armário.
Depois vem a fase do Mizuno, ou do Adidas. A gente começa a buscar algo que seja simples, mas que ofereça conforto. Que mostre para quem nos olha que "- Oi, eu estou por cima, olha só!". Superar a época anterior, do amor simples e ingênuo que deixou marcas exige paciência e, por diversas vezes, queremos só ver vitrine em busca do modelo ideal.
E essa busca pelo diferente, pelo novo, exótico, caro, bonito, gostoso, arrojado, glamuroso e confortável vai nos calejando. À medida que as histórias vão acontecendo, que gastamos sola de sapato atrás desse modelo de perfeição, a alma vai amadurecendo, aprendendo onde é preciso encolher os dedos, quando é possível pisar mais firme, em que terreno pode-se saltar sem medo de romper as articulações.
A cada mudança, um novo calo. Em cada calo - seja nos dedos, seja na alma - criamos, para nós mesmos, motivos e barreiras para não nos machucar mais. "- Não quero mais quem me proíba de sair"; "- Não aceito que me deem ordens"; "- Jamais admitirei um namoro com quem não trabalhe"; "- Quero alguém com foco e conteúdo". E quer saber? Deixamos de experimentar algo que nos afague e proteja pelo simples medo de machucar aquela ferida mal curada.
Só tem um detalhe, que é preciso não esquecer: pessoas não são sapatos. Portanto, não dá para pensar que elas ficarão para sempre em uma prateleira à espera do dono perfeito; tampouco acreditar que, uma vez descartadas, não encontrarão mais ninguém para caminhar junto nessas vielas tortas e misteriosas da vida a dois.
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