terça-feira, 22 de maio de 2012

Vida de novela

Seria mais fácil se a vida fosse como nas novelas: acordar penteado, com hálito fresco, ter a casa sempre arrumada, as toalhas de banho sempre bem dispostas, sair e entrar do serviço a hora que bem se entende e, nas adversidades, adiantar dias e meses de uma cena para a outra.

Viver seria mais simples se pudéssemos escolher os vilões e mocinhos com quem lidamos. Se tivéssemos a certeza da derradeira cena do acerto de contas. Seria bom poder quebrar a casa toda num acesso de fúria, com a certeza de que, passados 30 segundos, a casa estaria limpa e organizada novamente. 

Os casamentos seriam mais felizes se, como nas tramas, as pessoas reconhecessem suas almas gêmeas só por olhar. Se os casais se cruzassem nas ruas e o vento soprasse diferente para levar um ao outro amado; se as crianças viessem lindas e bochechudas - sem cocô na fralda, sem choro de madrugada, sem golfada no ombro. 

As cerimônias de enlace seriam perfeitas se, como nas fábulas televisivas, não envolvessem contas a pagar depois, muito estresse, salão de beleza lotado, frio na barriga, briga de familiares por saber quem será ou não padrinho. Desta forma, o Brasil seria recordista mundial de uniões e as igrejas não teriam datas livres até, sei lá, 2014. E os padres, claro, suariam menos se só precisassem dizer "- Se alguém tem alguma coisa contra esse casamento, fale agora ou cale-se para sempre" sob as pesadas vestimentas litúrgicas.

Seria mais fácil se a vida pudesse ser adiantada em capítulos. Se a sinopse pudesse ser conhecida e decorada. Se nossas reações às chamadas pudessem ser ensaiadas à exaustão, até a cena ficar perfeita. Os dias seriam menos angustiantes se houvesse a certeza de que no dia seguinte as pendências se resolveriam. Se os mocinhos, mesmo distantes, tivessem a clareza de que encontrariam as mocinhas; se os antagonistas tivessem punição garantida ao fim da trama.

A vida seria deliciosa se toda casa tivesse piscina sempre limpa, se as festas fossem cheias de gente bonita, se o espumante estivesse sempre gelado na medida certa. A alegria da vida seria contagiosa e definitiva se como nas novelas as doenças mais diversas tivessem cura sem tratamentos longos e penosos e se cada um de nós tivesse uma trilha sonora própria para embalar os momentos especiais.

Seria bom conhecer os planos que Deus, o autor oculto e silencioso, tem para seus personagens. E se assim não pode ser - já que estamos fadados a desencontros, a amores não correspondidos, a cabelos desalinhados, a contas a pagar no fim do mês e à eterna incerteza do amanhã - só nos resta, vilões e mocinhos, coadjuvantes e protagonistas, esperar pelas cenas dos próximos capítulos.

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