
Viver seria mais simples se pudéssemos escolher os vilões e mocinhos com quem lidamos. Se tivéssemos a certeza da derradeira cena do acerto de contas. Seria bom poder quebrar a casa toda num acesso de fúria, com a certeza de que, passados 30 segundos, a casa estaria limpa e organizada novamente.
Os casamentos seriam mais felizes se, como nas tramas, as pessoas reconhecessem suas almas gêmeas só por olhar. Se os casais se cruzassem nas ruas e o vento soprasse diferente para levar um ao outro amado; se as crianças viessem lindas e bochechudas - sem cocô na fralda, sem choro de madrugada, sem golfada no ombro.

Seria mais fácil se a vida pudesse ser adiantada em capítulos. Se a sinopse pudesse ser conhecida e decorada. Se nossas reações às chamadas pudessem ser ensaiadas à exaustão, até a cena ficar perfeita. Os dias seriam menos angustiantes se houvesse a certeza de que no dia seguinte as pendências se resolveriam. Se os mocinhos, mesmo distantes, tivessem a clareza de que encontrariam as mocinhas; se os antagonistas tivessem punição garantida ao fim da trama.

Seria bom conhecer os planos que Deus, o autor oculto e silencioso, tem para seus personagens. E se assim não pode ser - já que estamos fadados a desencontros, a amores não correspondidos, a cabelos desalinhados, a contas a pagar no fim do mês e à eterna incerteza do amanhã - só nos resta, vilões e mocinhos, coadjuvantes e protagonistas, esperar pelas cenas dos próximos capítulos.
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