sexta-feira, 15 de março de 2013

Não me deixem ser o último!

"O único pesar é que o meu caderno de endereços de amigos está emagrecendo. O passar do tempo tem isso, você vai perdendo muita gente". A frase encerra uma entrevista do octogenário Manoel Carlos, um dos mais notáveis autores da TV Globo, anunciando sua próxima novela, a estrear em janeiro de 2014, e comentando as desvantagens do passar dos anos. Acabo de lê-la.

Estou cansado. Tive um dia de muitas pautas e, confesso a vocês, caros leitores, essas duas primeiras semanas pós-férias estão bastante puxadas. Cheguei em casa com olhos cansados, pés doendo e uma vontade absurda de me jogar na cama e abraçar o travesseiro. Mas Manoel Carlos conseguiu me despertar o desejo de escrever (além das três matérias de hoje...)

Mas escrever o que? Simples: não me deixem ser o último. Não sou pessoa que lida bem com a dor, com as perdas. Se vou a uma festa, ou a um encontro de amigos, tenho duas alternativas: sair com um breve abraço, evitando estardalhaço, ou ser o último a sair. Essa coisa de "tchau", "adeus", "boa viagem", mexe comigo. Lá no fundo, sempre penso "- Quando vai ser a próxima?".

Pensar na finitude da vida - sobretudo para mim, tão próximo da realidade, dores e dificuldades da Vovó Santa, do alto de seus 83 anos - é doloroso. Muitos primos da vovó já se foram. Alguns cheguei a conhecer, outros só sei das histórias da juventude. Álvaro, Aroldo, Anir, Lalá, Edith... nomes que vovó pronuncia com desenvoltura, com aquele gostinho de lembrança de uma época que foi boa - o que, se não foi, ao menos foi melhor que a atual.

De amigos, vovó pouco fala. Acho que ter seis filhos - o primeiro deles, aos 17 anos - e não ter estudado durante muitos anos contribuiu para uma vida sem esses laços. Mas vez ou outra, volta o relato dos tempos de menina, em que Vovó Santa caminhava de braços dados com Dona Hilária Rossi, hoje figura importante de Colatina, voltando da aula de datilografia que fizeram. Refaço a cena no meu imaginário... é simples, mas doce. Vovó me conta com ternura.

Ver os amigos partirem, ou simplesmente se distanciarem, não deve ser fácil. Como Maneco, o autor da Globo, quantos nomes o caderno de endereços da vovó já perdeu? Não sei. Peço a Deus, contudo, que me deixe com meu caderninho em paz. Em dia. Não cheio, porque não sou dos mais dados a inúmeros amigos (perdão, rei Roberto Carlos, não tenho sua ambição...), mas com as folhas daqueles que amo preservadas, intactas.

E, caso o destino decida desatualizar meu endereço e meus contatos na agenda dos meus amigos, daqui um dia, dois, semanas, anos até, quero que se lembrem de mim como um cara que os amou. Não um Eduardo linear e fácil de lidar, nem o Eduardo mais animado para festas de raiar o dia, nada disso. Não sou esse personagem 100% gente boa, eu sei bem. 

Mas, caros amigos, não se esqueçam de que, de um jeito torto, meio mandão, meio debochado, talvez irônico em demasia ou até mesmo carente demais, eu caprichei na letra ao incluí-los no meu caderno. E as folhas, acreditem, guardei na alma para nunca perder. Por isso, não se mudem para onde eu não possa estar junto. Não me deixem ser o último.

2 comentários:

  1. Você escre com uma sensibilidade surpreendente. Quem conhece só o cara das matérias políticas e dos tuítes polemicos se surpreende. Deveria pensar em ser romancista e transformar em estórias esses temores, sentimentos, anseios e impressões. Renderiam grandes reflexões do cotidiano "década 2010". Estou curtindo ler seus textos intimistas e conhecer esse outro talento seu, apesar de causar preguiça a sua pessoa. rs

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  2. Nota Explicativa: Foi um elogio ao texto, não uma crítica pessoal. Quando quero criticar alguém, chamo de chato ou socrático. rs

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