quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Sobre palavras e silêncios

Escrevo melhor do que falo, e não costumo esconder essa fraqueza. A sonoridade das vogais, somadas às consoantes, me trava a língua, muitas vezes, quando o coração e a emoção querem falar mais depressa do que a dicção permite. Aprendi a explodir meus sentimentos em letras escritas, arredondadas, no tempo em que se usava fichário para assistir às aulas. Não entendendo nada do que dizia o professor de Matemática, afundava-me em poemas, rimas e ficções para expressar o que não dizia.

Não, escrever não é fácil. Escrever sobre sentimentos, muito menos. Porque o que quem escreve sente, nem sempre corresponde ao que sente quem lê. Amor, aqui escrito, pode despertar rancor quando lido. Sorte nas palavras pode ser má-sorte nas discussões vindouras, tal qual a falta de uma vírgula pode mudar todo o sentido de uma frase. E na correria das teclas, na profusão de sentimentos, vírgulas se perdem, elementos se misturam.

Escrevo melhor do que falo, e muitas vezes falo sem pensar. Como se diz por aí, "Quem nunca?". Mas quando percebo, já foi. O apagar da palavra sonora é muito mais difícil do que apertar o delete no teclado. Oras, dirão alguns, então por que não pensa antes de falar? Porque, para mim, a vida não é ensaiada. Nunca sei qual será a réplica, a tréplica, e estou a todo momento como em defensiva. Dos males, o menor, aprendi a pedir perdão (tardiamente, admito!) quando erro. E se tem uma coisa que eu gosto, gosto muito, é de dialogar. Mesmo quando silencio.

Silenciar não é fácil. Quantas vezes as palavras vêm à boca, os lábios se tensionam, e um suspiro faz tudo voltar goela abaixo? Não é fácil deixar de dizer o que se quer, do jeito que se quer, a hora que der vontade. Para quem está na casa dos 20 e poucos, isso é quase impossível. E, não duvidem: o tempo realmente é capaz de nos ensinar que nem sempre falar é a melhor alternativa.

Isso tudo não é uma defesa da hipocrisia, da falsidade, tampouco uma ode à apatia. Escrevo melhor do que falo, falo muito sem pensar, e venho pensando, cada vez mais, no poder que as palavras têm. Para o bem e para o mal. Escritas ou vocalizadas. Dizer algo, seja por qual meio for, é uma arma que todos nós podemos usar, e muitas vezes vejo que não sabemos (estou me incluindo nesse grupo).

Num mundo de tagarelices como é o nosso, talvez um dos melhores caminhos seja a observação. Olhar ao redor e ver como há gente sofrendo, magoada, brigada, infeliz, por ter dito e ouvido o que não devia. É isso que queremos para nós? É a essa realidade onde relações são construídas e terminadas pelas redes sociais, com palavras, exclamações e desenhos exagerados, que estamos condenados?

Longe de mim querer imprimir manual de boa conduta. Aliás, sinto-me até "escravizado" pelo Facebook, pelo Twitter e pelo WhatsApp - logo, não sou o melhor dos modelos. Mas tenho uma meta para os próximos meses: ser mais "ao vivo". Permitir-me mais. Adotar menos gritos, menos briga comprada a troco de nada. Menos "preguiça do mundo", menos dedo apontado, menos rispidez. Vai ser difícil?! Vai. Mas troco isso por mais oportunidades de ver o pôr-do-Sol, mais dias sentado à beira da praia, mais vento no rosto, mais silêncio. Mais paz. 

4 comentários:

  1. Seu texto lembrou o Thomas "A Insustentável Leveza do Ser" Millan Kundera,1984. Uma opção pela leveza, porém, mais sensata e por outros anseios, diferentemente que do personagem, mas como no livro, não podemos nos abstrair do peso eternamente. Saber o momento certo destas abstrações ou não abstrações é a grande sacada do século XXI, pra curtir a vida, sem deixar o jardim descuidado.

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  2. Correção: diferentemente do personagem.

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  3. Para um jornalista de jornal impresso, escrever sem pensar pode ser um problema. Falar sem pensar também. Ótima oportunidade de rever conceitos, falar menos e ouvir mais.

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