domingo, 25 de dezembro de 2011

Colatina e eu

Me mudei para Colatina em 1995. Até então, morava no bairro de Laranjeiras, na Serra, num sobrado grande, com quintal, cachorro e jabuti. A família, entretanto, sempre esteve na "Princesinha do Norte". Naquele ano, eu e vovó Santa decidimos nos juntar à trupe. Havia muitas vantagens - entre elas, a proximidade de primos e tias, e a bolsa de estudos na Escola São José, que era da minha tia.

Foram dez anos na cidade. Foi em Colatina que dei meu primeiro beijo, que engordei na adolescência, que fiz muitos gols contra nas aulas de Educação Física (futebol nunca foi meu forte!), criei amizades infinitas e inimizades que até hoje me fazem arrepiar. Coisas e implicâncias que surgem na infância e que nos acompanham para sempre...

Foram incontáveis os domingos na casa da minha Dindinha Dica. Não havia alegria maior do que sentar no tapete vermelho que ficava na sala, após os almoços, e escolher uma "vítima". Falávamos de tudo e de todos. Principalmente de todos. Aliás, posso dizer que "falávamos" mesmo, porque apesar de criança, eu sempre bisbilhotei as conversas dos adultos. Enquanto isso, os primos aproveitavam a piscina e o quintal.

Minha infância teve primos queridos. Tinha o Luciano, que era minha "alma gêmea". Era o primo com quem eu brincava no fundo do quintal e no terraço. Ele, sempre querendo desbravar o mundo - certa vez, pulou do segundo andar da casa na piscina. Eu era a parte medrosa da dupla. Os domingos não seriam os mesmos sem ele.

Larissa era a "ídola". Enquanto eu era criança e ela adolescente, a lembrança mais saborosa que me vem à mente é a dos "Xous da Xuxa" que aconteciam no Natal. Larissa, óbvio, era a Xuxa. As outras primas - Bia, Polly, Nanda, Beta, Dani - eram paquitas. E nós, as crianças, participávamos das brincadeiras.

Na adolescência, estudei no Cefetes (hoje Ifes). Ali aprendi a ser gente. Apesar de já ter decidido fazer jornalismo, era obrigado a estudar Matemática, Química e Física. O-DI-A-VA essas matérias e nunca vi sentido em aprender trigonometria, roldanas, catetos, ácidos e acetatos. Que diferença isso faz na vida, gente????

Em Colatina cresci espiritualmente. Cheguei a ser coordenador de liturgia do Encontro de Adolescentes com Cristo (EAC) da Catedral. Perguntem-me quantas vezes fui à missa em 2011? Apenas uma. Ontem, aliás, véspera de Natal - na mesma igreja que, em 1998, fiz minha primeira comunhão.

Mudei-me de Colatina em 2005, para fazer faculdade em Vitória. Cabeça de adolescente recém-saído da fase das rebeldias, disse para mim mesmo: "- Chega desse lugar!". Prometi a mim mesmo que não voltaria à cidade, que merecia algo maior, mais evoluído. Acabei em Vitória, vejam só que ironia do destino...

Já são quase sete anos fora de Colatina. O que mudou em mim, não sei definir. Mas todas as vezes que venho aqui, me sinto em casa. Admiro a mesma praça municipal da qual tantas vezes desdenhei. Gosto de passar pelas ruas Expedicionário Abílio dos Santos e Cassiano Castelo, que continuam apinhadas de lojas, estreitas e com trânsito caótico. A ponte continua a mesma, as cheias do Rio Doce continuam assustando a população ribeirinha.

Toda vez que visito Colatina, agora como "forasteiro", reclamo do calor. Mas é aqui que me sinto em casa. Quando visito as primas, os primos. Quando vejo que as primas que um dia eram adolescentes agora já têm suas próprias filhas, que estão crescendo unidas e cheias de vida, protagonizando brigas e pazes como um dia desses era eu quem fazia.

Nasci em Belém (PA), mas devo admitir: se me perguntam de onde sou, falo sem pestanejar: sou de Colatina. E tenho o maior orgulho dessa cidade onde nada muda, onde o calor reina, e onde me sinto feliz por poder caminhar de olhos fechados, tenho a certeza de que não me perderei.

5 comentários:

  1. Belo e sensível texto, amigo. Abs, Leonel

    ResponderExcluir
  2. E será sempre bem-vindo ao Solar dos Horta!!! :)

    ResponderExcluir
  3. Colatina não seria a mesma sem o calor!!! Amo nossa cidade e claro, sou urbana pra caramba, mas tenho os pés fincados nessa terra, daquí saio para fazer ótimas viagens, mas qdo vejo o Rio Doce é que me sinto em casa. Primo querido, adoro qdo vejo pessoas como vc q valorizam a nossa cidade e tem apreço pelo q há aquí. Venha sempre, as portas estão abertas!

    ResponderExcluir
  4. Tb amo Colatina e foi aí que vi muitas dessas coisas acontecerem com vc, e estive presente em algumas delas. E é realmente assim, saímos de Colatina mas ela continua sendo nossa casa. Parabens. Bjs

    ResponderExcluir
  5. Não tem o glamour de Paris, mas tem o calor de Dubai.... huahuauha

    ResponderExcluir