segunda-feira, 9 de abril de 2012

Velhice é melhor idade para quem?

Tenho protelado, há algumas semanas, minha volta ao blog. Às vezes até vem alguma "luz" para escrever, mas no geral tenho estado melancólico, como se pensasse constantemente nos rumos que estou dando à minha vida. Trabalho demais? Estudo de menos? Penso demais nos outros e pouco em mim ou seria o contrário? Perguntas sem respostas. Aliás, respostas existem, mas não quero admití-las.

Em parte, todos os meus pensamentos melancólicos e bucólicos levam a uma única figura: vovó Santa. Já falei dela algumas vezes por aqui, mas talvez nunca com detalhes. Vovó é mãe da minha mãe e, desde que me entendo como gente, é também minha mãe. Quando nasci, lá em Belém do Pará, sem esfôfago, prematuro e cheio de recomendações médicas, vovó logo foi cuidar de mim. Era ela quem me alimentava pela sonda que havia no meu abdome, que dormia sentada abraçada a mim quando ardia em febre madrugadas a dentro. Era vovó que me acompanhava às visitas médicas.

É da vovó que me lembro ao meu lado na missa, quando aprendi, sozinho, a rezar a Ave-Maria. Era ela quem me levava de mãos dadas à escola e que brigava por mim quando (às vezes merecidamente) a professora me repreendia por algo. Como minha mãe sempre foi um espírito livre, que não se sentia confortável às amarras da maternidade, vovó Santa sempre assumiu esse papel... e é como sempre a vi. Doce, presente, sentimental, superprotetora (até demais).

O tempo passou e eu cresci. Com a idade, vovó encolheu (não tem nem 1,5 metro, coitada!). Vieram as preocupações médicas. Dois stents no coração, uma dezena de remédios, cuidados com tireoide, com o sono, com a memória. Em outubro de 2009, celebramos os 80 anos da vovó com uma grande festa em Colatina. Filhos, netos, bisnetos... todos reunidos. Pegamos ela de surpresa com bolo, faixa, churrasco. Uma festança gostosa, com direito a pasta de mensagens assinadas por cada um de nós - inclusive os netos "adotivos" (meus amigos, inclusive).

No mês de março seguinte, mamãe se foi, e vovó nunca mais foi a mesma. Há dois anos, acompanho vovó cada vez mais distante daquilo que sempre foi. Não há mais aquela vaidade de antes. A memória apaga algumas passagens, a fala parece cada vez mais baixa e lenta. O processo parece ter se acelerado de dezembro para cá, quando nos mudamos de apartamento. Vovó saiu "do canto dela" e até hoje parece relutar à nova casa.

Temos ido mais a Colatina. É como se algo me dissesse para aproveitar mais o tempo ao lado dela, levando-a mais para perto da família. Tento, do meu jeito, consertar elos que lá atrás ficaram desgastados; ao mesmo tempo, gostaria de ter mais gente por perto para ver se vovó reage a esse momento, se algo nela consegue ser maior e mais forte que a tristeza de ter perdido uma filha sem ter podido dizer adeus. Parecem tentativas em vão.

Aí pergunto: quem inventou a expressão "melhor idade" para definir a velhice sabia o que é ser velho? Certamente essa pessoa não havia chegado aos 80 anos. Me perdoem os entusiastas da ideia, mas o passar do tempo só faz acumular rugas e dispersar a vitalidade da juventude. Dói para quem envelhece e machuca, ainda mais, quem está por perto e não se preparou para encarar a brevidade da vida. Porque dizer "adeus" não é "melhor" para ninguém.

PS * A propósito, hoje, dia 09/04, completo 1 ano de "Fachettoides".

Um comentário:

  1. Fala, grande Eduardo.

    Desculpe-me pelo sumiço. Não esqueci daqui não, apenas estava mudando de endereço (agora é www.mostresuaideia.com.br) e fiquei atolado nos trâmites. Você sabe como é. =)

    Grande abraço!

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