terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Música, amor e misérias

O amor regenera e mostra caminhos que não podíamos supor antes de conhecê-lo. Foi esta a conclusão à qual cheguei, na última segunda-feira, após mais de duas horas de fascínio em frente à tela de cinema, assistindo ao musical "Os Miseráveis". Se crítico eu fosse, descreveria como "Arrebatador. Forte. Esplendoroso".

Mas, não, não vou fazer uma crítica do filme, muito embora a história do escravo Jean Valjean e da operária Fantine mereça toda reverência. Antes, devo admitir que até chegar àquela sala de cinema, tudo que eu sabia sobre a obra era: "- Tem a música da Susan Boyle e ganhou três Oscar". Podem atirar as pedras os que bebem na fonte da sétima arte.

O filme vai além de um musical. Transpassa a melodia que tornou a britânica de cabelos desgrenhados famosa em todo o mundo. "Os Miseráveis" conta, com música - e muita música, até um pouco demais... - histórias de amores que se misturam. O amor entre jovens, de mãe para filha, de um homem para consigo próprio. O amor pelo país, por um ideal. A paixão juvenil pelas mudanças. Os ideais de vida que vão mudando com o passar dos anos.

O que levaria um ex-escravo a libertar da morte seu inimigo? Por qual motivo um jovem rico larga tudo e assume o risco de envergonhar a família? Se não por amor, que outro motivo pode levar alguém a reinventar-se para viver? Claro, excluindo-se as referências da narrativa do século XVIII, tudo isso ainda é muito pertinente e atual, a meu ver.

Você, caro leitor, quantas vezes já engoliu a seco uma resposta que gostaria de dar para não dar seguimento a uma briga? Quem aqui nunca assumiu uma desavença para defender alguém? E, ah... não é difícil encontrar quem confesse um amor não correspondido que, abafado no peito, trouxe nós de choro à garganta e amargor à alma.

Por esse Brasilzão de meu Deus, quantas mães deixam de comer para dar o último pão aos filhos? Quantas outras meninas, ainda tão jovens, não se vendem a preço de banana para sustentar a casa? Pais de família submetem-se a empregos degradantes, adolescentes isolam-se em suas bolhas de imaginações e fantasias para sonhar com quem amam.

Amores mal vividos podem levar o espírito ao deserto. Quem ama errado - às vezes até achando que está certo - pode se destruir e arruinar tudo ao redor. Mas esse sentimento, com seus efeitos colaterais, também é capaz de tirar uma alma infeliz do precipício, de fazer emergir do oceano da tristeza quem mergulhou na escuridão por desamor.

Amor não escolhe hora. Não escolhe cor. Não chega com endereço marcado nem se compromete a trajar os melhores tecidos. Amor nos faz enxergar a vida mais bonita e enche de sol os caminhos que vemos adiante, mesmo em dias de tempestade. É sentimento que põe música nos pensamentos e sorrisos fugitivos do canto da boca. O amor não tem miséria. Miseráveis são os que nunca amaram.

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