No início, tudo era simples. A de abelha, E de escova, I de índio, O de óculos, U de urso. Vieram as sílabas. As palavras. Depois fomos apresentados aos números. "Arme e efetue", escrevia a professora dos primeiros anos do Ensino Fundamental, para nos ensinar as primeiras operações. Era o sinal de que as coisas não seriam somente be-a-bá.
Houve o tempo das multiplicações, das divisões. Da escolha do turno da escola, quando metade dos colegas ficou pela manhã e a outra metade se transferiu para a tarde. Amizades rompidas, novos hábitos. Mudança de escola, de cidade. A primeira aula de inglês? Novo idioma! Como é que eu iria saber que "- What is your name?", esse emaranhado de sons que me obrigava a enrolar a língua, significava um simples "- Como é seu nome?", que eu já dizia sem problema algum há anos?
Ninguém me avisou que para engordar bastava comer desenfreadamente, mas que emagrecer seria bastante complicado. Logo eu, que era chamado de "Macarrão" pelo meu pai, tal a grossura das minhas canelas, no florescer da adolescência virei um verdadeiro bujão de gás. Também não foi fácil passar pelos 13, 14, 15 anos, quando meus amigos já estavam crescendo, e eu ficando para trás. Quantas interrogações na cabeça!
A fase do Ensino Médio, lidar com novas disciplinas. Química? Física? Que diabos eu vou fazer com os gases nobres? Para que eu tenho que entender de força centrípeda? E aquelas fórmulas imensas que não levavam a nada? De nada valeram as notas 10 em português, literatura. Para que estudei para aprender História, Inglês, Desenho Técnico? Onde eu ia bem não era o foco da escola. Acabei jubilado por nunca ter aceito a lógica das exatas.
Veio a faculdade. A primeira desilusão amorosa. O primeiro namoro estável. Novas dúvidas, outros medos. Contas a pagar, estágios, responsabilidades. Cobranças, timbre de voz para entrar na rádio, ao vivo. Chegaram as primeiras faturas do cartão de crédito, a hora de ser contratado, os desafios profissionais, escolhas tendo que ser feitas a todo instante. Nenhum dia repetindo a rotina do anterior. Os amigos da infância noivando, se distanciando, viajando. Todos dando rumo à própria vida.
Ah... como era bom ser criança e passar os domingos sentado no tapete vermelho da sala da Dindinha Dica, lá em Colatina. Tempo de roubar bombom Serenata da despensa, de brincar de "múmia" na piscina com os primos, de colher as carambolas, jabuticabas e morangos que nasciam no quintal da minha casa. Mas não... naquela época eu não queria nada disso. Não queria só a piscina, pouco ligava para as frutas, não fazia questão de ser criança junto com os outros da minha idade.
Eu queria ser grande. Eu queria trabalhar. Eu queria ser adulto. Pois é... não dei ouvidos a nenhum daqueles que me disse: "- Aproveita agora, porque depois é diferente". Eu queria essa diferença. Só não me lembro de ninguém ter dito, às claras, que ser grande é difícil.
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