sábado, 28 de maio de 2011

Casas, pessoas e nossos cômodos

Os sonhos da casa própria, do amor para sempre. Que critique quem não cultua, lá no fundo dos desejos, ao menos uma dessas coisas. A moradia perfeita, o abraço que aconchegue na medida certa. Pensamos e repensamos as cores, as medidas, os adornos, os detalhes, o perfume. Das casas e dos amores.

Seria perfeito, se não fosse uma constatação: pessoas não são casas. Por mais que queiramos, o surpreendente (e às vezes traiçoeiro) destino não nos permite escolher pares pela cor, pelas dimensões, pelo formato. Já vi muita gente se apaixonar por "pessoas quitinete", daquelas que são pequenas, que parecem até mesmo simplórias demais, mas que, com a luz do brilho no olhar, se transformavam em grandes resorts para a pessoa amada. Na contramão, já presenciei grandes ilusões com pessoas que se apresentavam como verdadeiras mansões, mas não passavam de choupanas de pau-a-pique.

A casa da gente tem que ser perfeita. Piso bem assentado, pintura impecável, uma decoração que seja bonita e, ao mesmo tempo, funcional. Espaços mal decorados tendem a causar incômodo - ora por muitos enfeites, ora por minimalismo demais. Nas contas do "8 ou 80", é difícil e trabalhoso o trabalho de se manter a casa em ordem. Pessoas também!

Explico: todo mundo tem seu cômodo desarrumado. Uma mania gritante, um dedo torto, um fio de cabelo que nunca chega no lugar, uma manchinha na pele que sobressai em fotos. Há casos piores, de cômodos que, de tão desorganizados, poluem todo o resto da nossa casa interior: falta de sensibilidade, deboche em demasia, línguas ferinas ou - tão comum! - impaciência para olhar para o lado. E quando a gente chega a uma casa dessas, e se apaixona por ela, quer logo arrumar tudo, enquadrar ao nosso modo. Mas quem disse que as pessoas querem ser arrumadas? No jogo da convivência, do amor e desamor, o máximo que se pode fazer é dar uma "ajeitadinha". De resto é aprender a respeitar os limites!

Outro fato que merece atenção: nós, gente de carne e osso, nos acostumamos ao nosso habitat. Seja a casa, seja a companhia. E nesse costume, deixamos uma parede descascada "para depois", colocamos um tapete sobre aquele piso que ficou frouxo, esquecemos uma lâmpada queimada no lugar - "ah, não faz tanta falta". E, ainda, deixamos de elogiar o vestido novo da esposa, a porta do carro deixa de ser aberta em sinal de cavalheirismo, as risadas e passeios a dois ficam escassos.

Casas e pessoas são tão diferentes... e tão iguais. Todos sonhamos em ter uma que seja nossa. Que seja para sempre. Que tenha o frescor dos dias frios, o sol da manhã, que acomode nossos bagulhos e manias de forma organizada. Mas, penso eu, sem um pouquinho de boa vontade, de cuidado e carinho, até mesmo o melhor dos lares (e o mais esfuziante amor) perde o fôlego. E, nesse caso, sempre haverá alguém disposto a arrumar as trouxas. E buscar novo abrigo.

2 comentários:

  1. Ai, né?! Ui! Fiquei tensa! E depois de tudo o que vc escreveu não sobra muito pra dizer! Mas eu gostei! rs :-)

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  2. Adoro o calor reconfortante do meu travesseiro velho, do meu sofá meio roto onde já conheço o melhor lugar (e mais macio) de ficar.
    Pessoas e casas...muito bonito esse post.

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