domingo, 29 de maio de 2011

Liquidificadores e batedeiras

O alerta veio da minha prima Fabíola, à constatação que fiz há alguns dias, de que, conforme o tempo passa, surgem pequenos defeitos em nós. Disse ela, com a sabedoria que tanto admiro: "A gente não 'dá defeito'. A gente muda. Algumas coisas vão cansando, outras se aperfeiçoam. Quem dá defeito é o liquidificador, a máquina de lavar, a batedeira". Pensando bem, não é que é verdade?!

O sinal vermelho acendeu ontem, sábado. O alerta da minha Bia (como chamo a prima querida) se tornou inegável quando, após pelo menos uns 40 dias de conversas e combinações via Facebook, reencontrei velhos amigos. Gente que estudou comigo no CEFET-ES, em Colatina, há oito anos. Nossa turma, a V-07, marcou época. Marcou minha história. E oito anos depois, revê-los me fez lembrar de situações que a memória havia apagado, e reviver sensações que não tinha desde que deixei as salas de aula.

A turma, completa, beirava 40 alunos. Estudávamos à tarde e grande parte dos alunos era de cidades vizinhas, como São Gabriel da Palha, João Neiva, Ibiraçu. Naquela época não havia tantas unidades da federal pelo Estado, como hoje. Não havia câmera digital, tampouco internet em alta velocidade. Ouso dizer que os celulares, nos idos de 2003, eram rudimentares e escassos. Dos amigos daquela época, reunimos sete. Parece pouco, mas nesse número ficamos por cinco horas - Gente! CIN-CO horas - rindo e colocando as fofocas em dia.

Os papos mudaram. Sexo, que era tabu (ou algo desconhecido) foi parar na mesa do almoço. Aventuras, desventuras, "quem gostava de quem". Passamos a limpo "quem ficou de mal com quem" e rimos de como éramos passionais. Constatamos que dos casais que se formaram no Ensino Médio, nenhum prosperou. Alguns emagreceram outros engordaram. Tem gente que já se casou. Houve quem mantivesse, por esses anos, estranhas manias. Adoráveis manias, que nos remetem à época que consideramos "a melhor de todos os tempos".

No CEFET-ES tínhamos aula de atletismo. Tínhamos um canteiro de obras para matar aulas. Professores nem sempre legais (e um, especialmente, nunca cheiroso) e uma coordenação rígida, que nos mandava de volta para casa se as meias tivessem detalhes coloridos. O uniforme tinha que estar impecável e, uma vez por mês, cantávamos o hino da escola sob o escaldante sol colatinense. Não tínhamos notebooks, muito menos tênis de marca famosa. Às vezes, não tínhamos nem o direito de chorar escondidos, porque a turma toda ia atrás para dar apoio (ah, a Matemática...). Sobrava uma parceria deliciosa, contagiante.

ººº

O que mudou desde que deixamos a adolescência?! Bom... recorrendo à teoria da Bia, noto que meus amigos realmente se aprimoraram. Nada de defeitos, apenas experiência acumulada. Loreny, minha melhor amiga (desde a infância), é concursada do Banco do Brasil e está prestes a se formar em Direito. Tem os olhos mais bonitos que conheço e um coração tão bom e tão justo que não sei descrever. Nossa amizade, apesar da distância - ela está morando em Minas Gerais -, é sólida e completa!

Ramony, que vivia reclamando de estar encalhada, se casou com um engenheiro. Está mais magra, mais loira, mas mantém o lindo sorriso de outrora. Renata (a Sandy, como eu a apelidei secretamente na escola) é professora de inglês. O tempo a tornou uma mulher mais liberal, menos certinha, mas manteve a beleza e a sensatez que sempre lhe foram peculiares. Ah, e "de gorgeta", descobri que, com o passar dos anos, temos ótimas afinidades.

Os Gemins - Wanderson e Walace - serão sempre os caçulas da turma. Ainda não chegaram nem aos 24 anos, mas cada um tem seu carro e ambos são concursados. Wanderson (o gêmeo bonzinho) é funcionário dos Correios. Walace é efetivo do Instituto Federal do ES, em Aracruz. Julia, que sempre teve uma beleza estonteante (a "cavala" da turma!) continua uma beldade. Mas, agora, com canudo de arquiteta em mãos.

O sétimo cavaleiro do Apocalipse, na mesa do reencontro, era eu - o Duzim. E cá estou, com meus cabelos brancos, com algumas marcas de expressão. A coluna um pouco envergada, os olhos não enxergando tão bem. Continuo uma negação em Matemática e nada sei de Química. Mas amo as palavras. Sou apaixonado pelo que faço e escolhi uma profissão que me completa.

Reunir amigos, rir de bobeiras foi algo memorável. Criticar coisas (e pessoas) que ficaram no passado, falar alto e posar para fotos atrapalhando os garçons me fez tão bem! Que defeito pode ter nisso? Como diz a Fabíola, a gente não é liquidificador, máquina de lavar, nem batedeira. Registramos - mais uma vez - nossa história. Os rostos estão mais maduros, as piadas também, mas nesses oito anos, uma coisa não mudou: "a V-07 poca sim, e daí?!"

7 comentários:

  1. que lindo!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  2. Fachetti, seus posts são os melhores... Muito Maneiro, nos faz refletir de fato! De toda galera do "Diário de Jornalismo"

    Lucas Nascimento - @Lucasmento

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  3. Eu não teria feito melhor. Sem...defeitos! rs
    Amo você.
    Bia

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  4. Duzim, parabéns pelo texto e pelo blog. Também tenho certeza de que você escolheu a profissão certa.Você escreve muito bem mesmo! Grande abraço.

    Wanderson Cassaro - gemin

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  5. Que liiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiindo!!!!
    Queria dar um abraço de urso em todos vcs, agora!
    A melhor época da minha vida, sem duvidas, e os melhores amigos, os que vão durar a vida inteira!
    Saudade obesa!
    Beijo beijo beijo!

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  6. Duzim, muito legal o texto. Ta vendo, a matemática nem foi necessária pro texto, kkkkkkk. Mas os de economia continuam precisando ta. Tirando as brincadeiras de sempre, parabéns pela dedicação e por gostar tanto do que faz. Abraço.

    Walace Cassaro - Gemin.

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  7. kkkkkkkkkkkkkk mto manero msm...
    eu to na lista dos que engordaram... aproximadamente 20 kg eu diria....

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