quarta-feira, 4 de maio de 2011

Papel de estudante

Coisa gostosa era escrever em cartolinas brancas. Letra arredondada, medo de deixar as linhas tortas e cuidado para não marcar o papel com o lápis que riscava o caminho para as palavras expostas ao público. Era inovador ter réguas de letras de fôrma, daquelas em que A, B, C são peças separadas que têm de ser milimetricamente enfileiradas para formar frases inteiras. E, de vez em quando, vinha a raiva, porque a tinta manchou a régua e, com ela, foi-se o alvo do papel. Fazia parte!

Papel craft também tinha seu encanto. Por sobre o fundo pardo, ficavam bonitas as letras vermelhas e verdes. Os pincéis "Pilot" que deslizavam sobre a folha tinham um cheiro característico, mistura de álcool e corantes. Bastava encostá-los em uma das mãos e eram necessários bons minutos sob a água, com muito sabonete, para remover a manchas. Quem, naquela época, não perdeu tempo acrescentando fluido ao cartucho do Pilot, porque a tinta tinha acabado?!

Quando surgiu o papel-pedra, a revolução. Nunca mais as apresentações foram as mesmas. Maquetes, teatros, lembrancinhas... tudo foi tomado pelo cinza, que quanto mais amassado, mais cumpria a pétrea missão. Cinza que contrastava com os "fru-frus" dos bordadinhos feitos às margens das cartolinas, sempre tão coloridos. Os que sabiam fazer "margem bordada" com papel crepom eram disputados a tapa pelos grupos da escola. Só quem fez alguma sabe a inhaca que os dedos viram após o contato com cola e papel crepom. Era difícil acertar!!

Por falar em cola, e o cheirinho da Cola Tenaz? E das primeiras colas em bastão? Vinham em tubinhos vermelhos, a última palavra em modernidade.. Tinham um cheirinho tão suave, que ouso me lembrar delas com certa saudade. Sem perfume, e talvez já extintos, havia também os cadernos de matemática, que em vez de linhas, eram todos quadriculados. Ali se aprendia a por os primeiros numerais e a deixá-los num espaço razoável de distância. Eles eram "primos distantes" dos temidos cadernos de caligrafia - vedetes na época em que ter a letra redondinha e "bordada" era quase obrigação!

Ai, que saudade dos tempos da escola. Da
"história da abelhinha que perdeu a asa" (e me ensinou a escrever), das feiras de ciências, de geografia... dos trabalhos de literatura! Será que hoje em dia as crianças sabem o que é cartolina, papel craft, letra redondinha ou cartaz com margem bordada? Será que ainda há espaço, nas salas de aula, para treinar caligrafia, decorar a tabuada e "tomar distância" o coleguinha, na fila?

Jargões antigos, lembranças gostosas. Se eu tivesse filhos (e já falei disso aqui), iria gostar de reviver esses momentos sob uma nova perspectiva. Porque só depois que a gente cresce, é que vê como é gostoso representar, sem amarras ou tédio, o papel de estudante.

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