quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Mamãe do Céu

"Bença Papai do Céu, bença Mamãe do Céu, bença meu anjinho da guarda". Foi assim que aprendi, ainda pequeno, a rezar. Eram as preces mais genuínas e simples que alguém poderia fazer, e ao buscar na memória consigo me lembrar com detalhes da cena: a cama nova, com cheiro de madeira, os brinquedos dispostos na prateleira, a luz amarela iluminando o quarto. E, ao meu lado, vovó. Sempre ela, me ensinando a juntar as mãos, fechar os olhos e "pedir a bênção".

O tempo foi passando e a infância de doenças e internações cada vez me aproximava mais daquele Papai do Céu de cabelos longos e olhos verdes que eu imaginava. Sempre simpatizei com ele, mas era Ela, a Mamãe do Céu, que me encantava. Com aquele manto azul, o semblante tranquilo e os braços abertos para onde eu podia correr - em orações e pensamentos - nas horas de sufoco. Às vezes, sabendo que havia feito algo "que Papai do Céu ia chorar", eu, criança, pedia baixinho a Ela que me ajudasse. Como criança que se esconde de um grande pito.

Mamãe do Céu sempre me valeu. Quando o dente-de-leite demorava a cair, quando a febre me acometia, quando os colegas de sala me perseguiam, quando as contas de matemática não entravam na minha cabeça. Por volta de uns sete, para oito anos de idade, minha tia Rita presenteou-me com uma Nossa Senhora Aparecida feita de um material que "iluminava" no escuro. Quantas vezes peguei no sono admirando aquela luz que se destacava na escuridão do quarto... sentia meu sono velado e dormia feliz.

No início da adolescência, surgiram as dúvidas. Será que Deus existe mesmo? Se existe, por que eu tenho essa vida? Por que Ele nunca me responde? Por que tanto mistério? Havia dias em que, com minha impáfia (um tanto genética), eu desafiava o Criador. "- Se você existe mesmo, então me ajude a tirar nota boa em matemática!". Chegou a tal ponto que, no 1º ano do Ensino Médio, escapei do zero porque a professora me deu 0,5 ponto por ter assinado a prova. Só a misericórdia divina para explicar...

Deixando de lado minhas implicâncias com Deus - e de vez em quando eu bato uns papos sérios com ele -, a Mamãe do Céu, diferente, sempre teve minha preferência. Seja Ela Maria, Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora da Penha, ou até a Desatadora de Nós, que, coitada, deve ter os dedos calejados de tanto desamarrar os nós que eu mesmo arrumo.

Busco no manto mariano o conforto para as horas de dúvidas e o calor nas noites em que o frio atinge a alma. Fecho meus olhos e tento imaginar como serão os olhos dela, lá do céu, me vigiando. Ou, às vezes, me reprovando (porque toda mãe tem seus dias de piti, né?!). E, confesso, não são todas as noites em que rezo. Aliás, têm sido bem poucas. Mas quando o cansaço supera as forças, quando o vazio teima em vencer a fé, já sei a receita de cor: "bença Papai do Céu, bença Mamãe do Céu, bença meu anjinho da guarda".

Amém.

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