Fila de banco, sem senha. Você lá, pensando no rombo na conta bancária, chega um senhorzinho, daqueles franzinos com todo jeito de que adora puxar assunto. Quem é o escolhido para prosear? Óbvio. E não, não é só um assunto. É uma conversa que vem com toques, com entonações de "- Ah, a Juventina, sabe, a Juventina? Pois é, ela era casada com o filho do primo do vizinho da fazenda. O seu Maneco. Ah, seu Maneco era um homem bom, filho do finado Alcides, neto da Bizantina... mas hein, do que eu estava falando mesmo?". Chegam todas as senhas, menos a sua.
Restaurante. A convite de uma grande amiga, você vai a um jantar para conhecer o novo namorado dela. Você está acima do peso (e reconhece isso!), gastou meia hora pra escolher a camisa que fechasse. Não dá outra: o fulano chega e logo começa a falar mal de gordo. "- Gordo é gordo porque come demais. Você olha pro maldito do gordo e ele está sempre mastigando!". Sujeitinho desagradável, gasta o jantar falando das viagens a Veneza, a Sibéria, à pu... que... p..., mas não é capaz de perceber o festival de saias-justas e constrangimentos que está criando ao redor. O menu? Tanto faz, é melhor cair fora logo.
Festa de família. Você chega pensando em distribuir abraços e carinhos nas pessoas que não vê há tempos e logo quem senta-se ao seu lado? A sogra daquela prima. Aquela infeliz com voz de taquara rachada, que não é da família mas se mete em todos os assuntos que não lhe dizem respeito. E mistura dicas de tosa para cachorros com a receita de pudim de damasco que aprendeu na Ana Maria Braga, passando por curso de corte e costura e, invariavelmente, usa daquele tom estridente pra te indagar, arregalando os olhos: "- Mas juuuura que você não gosta? Ah, eu adoro". O que era para ser um encontro familiar tende a ser um martírio.
Exemplos simples, mas aposto que vocês, caros leitores, já passaram por algo similar (ou conhecem alguém que já passou). Por mais benévola que seja a alma, por mais que os pensamentos sejam santificados, não há saída: tem gente no mundo que veio para irritar. Seja por falar demais, seja por forçar amizade, seja por ter aquele tique nervoso de piscar os olhos repetidamente durante a frase.
Gente que "coça a garganta" num eterno pigarrear; gente que estala o dedo polegar te fazendo sentir calafrios (sempre tenho medo de presenciar uma fratura exposta); gente que masca chicletes fazendo minibolhas e estourando-as sem parar. Por que, meu Deus, por que?!
A lista é ampla: há aqueles que começam todas as frases por "- Então..." - e os derivativos, que terminam toda oração em "- Né?!". Há os que falam alto ao celular dentro do ônibus, os que sentam-se ao seu lado na poltrona do cinema jogando a bolsa sobre seu colo, os que batem palma após o Hino Nacional (eu aprendi que isso é errado!). E os mais-mais-mais no quesito irritação: os que fazem autorreferência na terceira pessoa. Estariam eles possuídos por uma espécie de entidade narradora onisciente?!
Gente que irrita é o que mais tem por aí. Não dá pra evitar, infelizmente. Basta por o pé na rua e elas vêm, em manadas. Resta saber qual delas vai esbarrar em você e transformar alguns minutos do seu dia em incontáveis horas de desprazer. E, não havendo como escapar deste triste destino, o melhor a fazer é respirar, sorrir e, diante da presença não tão ilustre que se força, ser minimalista nas reações: "É", "Que coisa", "Ahã", "Pode ser". Costuma funcionar.
Ah... já ia me esquecendo: também é irritante aquele tipo de gente que se irrita com tudo e tudo critica. Ô povo da língua ferina! Ops... nesse grupo estou eu.
Como sempre: texto inteligente, articulado, inspirador. Me vi em muitas cenas descritas. Parabéns! Josele
ResponderExcluirGrande texto, Eduardo. =)
ResponderExcluirValeu pela moral, pela visita e pelo elogio. Fico feliz que tenha gostado.
Continue com esse amor por escrever. Vale a pena. ;)
Grande abraço!