domingo, 8 de janeiro de 2012

Gente que irrita

Fila de banco, sem senha. Você lá, pensando no rombo na conta bancária, chega um senhorzinho, daqueles franzinos com todo jeito de que adora puxar assunto. Quem é o escolhido para prosear? Óbvio. E não, não é só um assunto. É uma conversa que vem com toques, com entonações de "- Ah, a Juventina, sabe, a Juventina? Pois é, ela era casada com o filho do primo do vizinho da fazenda. O seu Maneco. Ah, seu Maneco era um homem bom, filho do finado Alcides, neto da Bizantina... mas hein, do que eu estava falando mesmo?". Chegam todas as senhas, menos a sua.

Restaurante. A convite de uma grande amiga, você vai a um jantar para conhecer o novo namorado dela. Você está acima do peso (e reconhece isso!), gastou meia hora pra escolher a camisa que fechasse. Não dá outra: o fulano chega e logo começa a falar mal de gordo. "- Gordo é gordo porque come demais. Você olha pro maldito do gordo e ele está sempre mastigando!". Sujeitinho desagradável, gasta o jantar falando das viagens a Veneza, a Sibéria, à pu... que... p..., mas não é capaz de perceber o festival de saias-justas e constrangimentos que está criando ao redor. O menu? Tanto faz, é melhor cair fora logo.

Festa de família. Você chega pensando em distribuir abraços e carinhos nas pessoas que não vê há tempos e logo quem senta-se ao seu lado? A sogra daquela prima. Aquela infeliz com voz de taquara rachada, que não é da família mas se mete em todos os assuntos que não lhe dizem respeito. E mistura dicas de tosa para cachorros com a receita de pudim de damasco que aprendeu na Ana Maria Braga, passando por curso de corte e costura e, invariavelmente, usa daquele tom estridente pra te indagar, arregalando os olhos: "- Mas juuuura que você não gosta? Ah, eu adoro". O que era para ser um encontro familiar tende a ser um martírio.

Exemplos simples, mas aposto que vocês, caros leitores, já passaram por algo similar (ou conhecem alguém que já passou). Por mais benévola que seja a alma, por mais que os pensamentos sejam santificados, não há saída: tem gente no mundo que veio para irritar. Seja por falar demais, seja por forçar amizade, seja por ter aquele tique nervoso de piscar os olhos repetidamente durante a frase.

Gente que "coça a garganta" num eterno pigarrear; gente que estala o dedo polegar te fazendo sentir calafrios (sempre tenho medo de presenciar uma fratura exposta); gente que masca chicletes fazendo minibolhas e estourando-as sem parar. Por que, meu Deus, por que?!

A lista é ampla: há aqueles que começam todas as frases por "- Então..." - e os derivativos, que terminam toda oração em "- Né?!". Há os que falam alto ao celular dentro do ônibus, os que sentam-se ao seu lado na poltrona do cinema jogando a bolsa sobre seu colo, os que batem palma após o Hino Nacional (eu aprendi que isso é errado!). E os mais-mais-mais no quesito irritação: os que fazem autorreferência na terceira pessoa. Estariam eles possuídos por uma espécie de entidade narradora onisciente?!

Gente que irrita é o que mais tem por aí. Não dá pra evitar, infelizmente. Basta por o pé na rua e elas vêm, em manadas. Resta saber qual delas vai esbarrar em você e transformar alguns minutos do seu dia em incontáveis horas de desprazer. E, não havendo como escapar deste triste destino, o melhor a fazer é respirar, sorrir e, diante da presença não tão ilustre que se força, ser minimalista nas reações: "É", "Que coisa", "Ahã", "Pode ser". Costuma funcionar.

Ah... já ia me esquecendo: também é irritante aquele tipo de gente que se irrita com tudo e tudo critica. Ô povo da língua ferina! Ops... nesse grupo estou eu.

2 comentários:

  1. Como sempre: texto inteligente, articulado, inspirador. Me vi em muitas cenas descritas. Parabéns! Josele

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  2. Grande texto, Eduardo. =)
    Valeu pela moral, pela visita e pelo elogio. Fico feliz que tenha gostado.
    Continue com esse amor por escrever. Vale a pena. ;)
    Grande abraço!

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