Não sou exemplo de conduta nas redes sociais, admito. E vou logo dizendo isso antes que, ali embaixo, alguém venha enumerar as vezes em que mandei indiretas ou escrevi frases desconexas nas plataformas de integração com pessoas na internet. Muitos dos meus "seguidores" e amigos nesses campos, bem da verdade, nunca vi pessoalmente.
A internet sempre me atraiu. Desde os tempos do Terra/Zaz, com aquele barulhinho típico de conexão discada. Noites e noites navegando após a meia noite, para pagar pulso único. E que ódio eu tinha quando precisava falar com algum amigo e o telefone só dava ocupado, durante dias e dias. Mal sabíamos a revolução que estava por vir. Hoje, seja no celular, seja no trabalho, seja em casa, estou conectado 24 horas. Há prós e contras.
Mas não estou afim de escrever sobre a revolução tecnológica. Nem dizer, aqui, do que acho da privatização da telefonia (que, penso, colaborou com esse boom virtual que vivemos, com melhorias e modernização das linhas). O grande "X" da questão é como a internet serve para sermos o que não somos. Complexo? Talvez. Mas diga lá: não é mais fácil mandar aquela indireta, dar aquela espetada em alguém, usando 140 caracteres? Você manda o recado e, se ler algo que não gostou como resposta, finge que não leu.
Tem gente que usa as redes sociais para encarnar o filósofo. Clarice Lispector chora no túmulo, tamanha quantidade de frases de sua autoria espalhadas por aí. Muitas delas, a autora jamais escrevera. Caio F. Abreu, que não faço noção de quem seja, está no páreo. Gente com visão de mundo romântico, de beleza. Dicas para autoestima, para o bem comum. Cachorrinhos e borboletas num mundo de puro sentimento. Será, meu Deus, que as pessoas que só fazem citações vivem neste planeta tão perfeito e emocional? Mandem-me um passaporte, também quero esse lugar de harmonia, onde só há frases bonitas!
Há, nesse universo, os que são contra tudo, contra todos, contra o cosmo e as tendências. Esbravejam dia e noite contra a ingestão da carne, contra o capitalismo, contra os tucanos, contra os petistas, contra o dinheiro, contra o Banco Central. Gente que tem sangue nos olhos ao pensar em FHC, Plano Real, Bovespa. Transformam a "timeline" num campo de socialismo, com toques de comunismo. A qualquer momento, penso que ressuscitarão Che para dominar o mundo. Não sem antes punir Barack, moleque travesso, por estar à frente dos Estados Unidos.
A internet, esse mundo sem regras - "território livre", alguns costumam dizer - é, na verdade, um conglomerado de regras. Todo mundo quer fazer valer a sua. E, decepcionante ou não, nenhuma baliza serve para todos. Há os que choram, há os que filosofam, há os que agridem, há os que dão receita de bolo, há os que vivem seus personagens virtuais e, ao desconectar, têm outra cara.
E, nessa multidão de avatares, nicks e linhas do tempo, estou eu e minhas doses exageradas de sarcasmo; com meus rompantes de indignação com lojas que não atendem bem, com ruas que alagam, com promessas de prefeitos jamais cumpridas. Nesse universo de letras soltas ao vento, serve-se de tudo: de veneno a elixir. Sirvam-se à vontade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário