terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Por acaso, não mais que isso

Resolvi mudar os hábitos. Acordar cedo, fazer um check-up, ver como anda o coração, o metabolismo, o estômago. É tanto desgosto nesta vida, tantas notícias tristes, tanto corre-corre, que não me surpreenderei se encontrar uma gastritezinha avisando-me que o corpo precisa de atenção. Já na primeira semana de 2012, marquei uma bateria de exames. Acordar cedo... são outros quinhentos.

Num domingo de sol - bem raro, é preciso dizer -, enchi-me de coragem e fui correr no calçadão. Não fazia isso há, sei lá, uns seis ou sete meses. Que delícia! O vento que vem do mar tem outro frescor. Gente bonita caminhando, conversando. Garotas de patins, deslizando sobre o calçadão. Rapazes de skate (às vezes atrapalhando a passagem) desafiando a sorte com manobras. Gente diferente. Hábitos diferentes. Boa música no fone, e lá fui eu.

Ao redor, a cidade vive. E bastou um pouquinho de boa vontade para ver, com um sentimento bom no peito e olhos mais açucarados, que o dia a dia não se resume às tragédias que tenho assistido na TV, ou as dores e traições relatadas nos jornais e revistas. Do lado de fora do aquário existe ar. E ar respirável até mesmo para mim, que em meio à multidão sou de sentir-me um peixe fora d'água.

Passaram-se alguns dias. Retornei à praia, pela manhã. Antes do expediente. Lá estavam as pessoas. Deitadas na areia, conversando, tomando água de coco. Vivendo! Não precisei fazer nada de extraordinário; bastou-me o vaivém das ondas, novamente a brisa e o cansaço dos dias que haviam passado se desfez. A imagem antes turva daqueles dias clareou, como céu no pós-tempestade.

Repeti a dose. Desta vez, acompanhado de uma querida amiga - a Débora, de quem já falei por aqui uma vez. Conversa gostosa, despretensiosa. Umas latinhas para refrescar o calor. Gente bonita na praia. Corpos transpirando saúde e bem estar - sim, eu me senti um tanto deslocado, afinal não estou em dia nem com a dieta, nem com os exercícios (mas deixemos isso de lado!). Falávamos, eu e Débora, de encontros, desencontros, expectativas. Do que passou e do que virá.

Lá pelas tantas, uma frase dela me fez pensar: "- As melhores coisas acontecem quando estamos distraídos". Sim, ela parafraseou alguém e citou o autor, mas perdoem-me, esqueci. Distraído, distraído... há quanto tempo não me dou esse "luxo"? Sempre ligado, multiconectado, preocupado com contas, parentes, projetos, pautas... ufa!

Vou me repensar. Aliás, vou me distrair. Quem sabe, assim, do nada, eu me surpreenda com algo/alguém. Que sejam as jovens que deslizam sobre rodas, que sejam os garotos que movem-se no ar. Que não seja nada disso. Que seja eu... só eu e meus pensamentos. Rir consigo é bom para espantar o tédio.

Um comentário:

  1. Na verdade é um provérbio indiano. Melhor explicado por Larissa Lins. "Coisas boas acontecem com os que se distraem de verdade. Com os que não apenas permitem que coisas incríveis (e não planejadas) aconteçam, mas que também permitem a si mesmos encontrá-las. Acontece, assim, ao acaso. É que quando estamos distraídos, nos reconhecemos. Entre tantas e tantas pessoas - perdidas e confusas - reconhecemos um mesmo jeito de dar as mãos, uma mesma forma de olhar em volta, um mesmo sorriso ou um mesmo gesto. Então, acontece".

    Um beijo ; )

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