Bipolaridade é a palavra do momento. Como um bálsamo para as dores da alma, ela tira pesos dos ombros pecadores e os coloca no patamar de sofredores - pobres vítimas do destino. Ultimamente, noto que essa paroxítona vem sendo lançada como tapume para os mais diversos problemas estruturais dos homens; cabe do mau humor matinal aos ímpetos de agressividade.Acordo num dia de sol, brisa leve, pássaros nas nuvens. Humor nas alturas, bom dia desejado aos porteiros, zeladores e até aos cães nas ruas. Em questão de minutos, um carro passa sobre uma poça, suja minha calça. Zango. "- Bipolar!", apontam os demais. Não há outro diagnóstico - nem mesmo um destempero pontual.
Ficou fácil esconder os próprios defeitos usando a bipolaridade como desculpa. Um dia de introspecção, se seguido de euforia por uma boa notícia que chegou de repente, pode denotar distúrbio de comportamento. Do contrário, se a luz dos olhos se apagam por algum motivo breve, sempre haverá quem, sem a menor proximidade, cochiche para um terceiro sobre "as duas caras de fulano".
Estamos fadados a uma alegria contagiante, excessivamente expressiva. Picos de raiva, rompantes de insatisfação, de "desabafar consigo próprio" devem ser polidos, controlados ao máximo. Os "normais" são céticos, secos, austeros. São lineares e desconhecem a aplicação da expressão "ou 8, ou 80". Quero fazer parte desse grupo? Não. Prefiro minha naturalidade e a livre expressão que me aproxima das camisas de força.
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