quarta-feira, 8 de junho de 2011

Tragam a camisa de força!

Bipolaridade é a palavra do momento. Como um bálsamo para as dores da alma, ela tira pesos dos ombros pecadores e os coloca no patamar de sofredores - pobres vítimas do destino. Ultimamente, noto que essa paroxítona vem sendo lançada como tapume para os mais diversos problemas estruturais dos homens; cabe do mau humor matinal aos ímpetos de agressividade.

Acordo num dia de sol, brisa leve, pássaros nas nuvens. Humor nas alturas, bom dia desejado aos porteiros, zeladores e até aos cães nas ruas. Em questão de minutos, um carro passa sobre uma poça, suja minha calça. Zango. "- Bipolar!", apontam os demais. Não há outro diagnóstico - nem mesmo um destempero pontual.

Ficou fácil esconder os próprios defeitos usando a bipolaridade como desculpa. Um dia de introspecção, se seguido de euforia por uma boa notícia que chegou de repente, pode denotar distúrbio de comportamento. Do contrário, se a luz dos olhos se apagam por algum motivo breve, sempre haverá quem, sem a menor proximidade, cochiche para um terceiro sobre "as duas caras de fulano".

Ficou tão fácil taxar os outros de bipolares, que às vezes me acho bipolar por pensar demais. Ser normal, hoje em dia, é manter uma só linha de raciocínio. É sorrir do amanhecer ao anoitecer, mesmo guardando mágoas e tristezas no fundo da alma. Não se pode mais ter algumas horas de silêncio, muito menos dar-se o luxo de uma autoavaliação que exija distância de outras pessoas, para pensar e respirar melhor. Quem faz isso... ah, é bipolar!

Estamos fadados a uma alegria contagiante, excessivamente expressiva. Picos de raiva, rompantes de insatisfação, de "desabafar consigo próprio" devem ser polidos, controlados ao máximo. Os "normais" são céticos, secos, austeros. São lineares e desconhecem a aplicação da expressão "ou 8, ou 80". Quero fazer parte desse grupo? Não. Prefiro minha naturalidade e a livre expressão que me aproxima das camisas de força.

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