sexta-feira, 10 de junho de 2011

Um curta para longas conversas

Há alguns dias venho buscando alguma coisa para dividir aqui com vocês. Pensei em escrever sobre a escolha entre dois caminhos, ou, quem sabe, refletir um pouco sobre a correria do dia a dia. Isso, aliás, não chega a ser nenhuma novidade para mim - que até o fim de junho, devo passar às vezes até 12 ou 13 horas no serviço. Mas nem um tema, nem outro. Resolvi escrever sobre aqueles dias em que não nos enxergamos e recorremos aos olhos dos outros para ver o mundo.

A ideia surgiu ontem, quando recebi o link para o curta-metragem "Eu não quero voltar sozinho", de Daniel Ribeiro. É pequeno - pouco mais que 17 minutos -, mas traz uma mensagem bonita; a história de três adolescentes que estudam juntos. Um deles, cego, precisa da ajuda da melhor amiga para se encontrar no mundo. Ela, uma garota tímida, parece ver no amigo uma espécie de âncora para as próprias inseguranças. E eis que surge um terceiro elemento, um aluno novato, que soma à dupla um viés diferente... a descoberta do amor.

Seria mais uma história de amor, de tantas outras que já vi no cinema e em novelas, se o curta não abordasse, com uma singeleza singular, a descoberta de sentimentos entre dois garotos. E antes que alguém aí do outro lado se sinta ofendido ou ache que estou aqui fazendo alguma apologia, explico. Não vi nessa história a beleza por se tratar de um amor entre iguais. Aliás, passo longe da polêmica. Mas gosto de histórias bem contadas, de ser espectador de tramas factíveis, dessas que a gente vê por aí - entre meninos, meninas, velhinhos. Histórias de amor!

Me emociona a indagação de Leonardo, o menino cego da trama em questão, à colega. "- Eu sou bonito? Você acha que as pessoas me consideram uma pessoa bonita?". Quantas vezes já me fiz essa pergunta. E quantas vezes, posso apostar, pelo menos um de vocês, que passam por aqui, também já não se indagaram de igual forma? Em comum, temos algo: nós nos enxergamos. Nos vemos nos espelhos, nos reflexos de vidros escuros. Leonardo não. E mesmo nos enxergando, nos conhecendo (e reconhecendo) em cor, altura, textura, tantas vezes não nos vemos como somos. Ou achamos que são os outros que não nos veem.

"Eu não quero voltar sozinho" é, mais que um curta-metragem sobre dois meninos e uma menina, um retrato da cegueira da gente. Dos momentos em que surge a paranoia, em que buscamos braços que nos guiem e, no vazio, perdemos a noção do espaço. Um bonito relato sobre a importância da amizade. Sobre como ganhar a confiança de alguém sem pedi-la. Uma paráfrase de gente de verdade, com "pele branquinha, cabelo todo enroladinho, olhão". Ou, talvez, de pessoas sem nenhum desses predicados, mas um coração disposto a sentir e receber carinho.

No fim das contas, ninguém quer, mesmo, voltar sozinho para casa.

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