domingo, 5 de junho de 2011

Belém, belém...

Tempos estranhos esses de internet para todos os lados. Não sei em que parte do filme da vida eu dormi, mas de repente estamos, todos nós, reféns dessa tal de banda larga. Esqueceu-se a época dos telegramas, das cartas endereçadas, dos envios via Correios. Ficou para trás aquele friozinho na barriga que levava duas, três semanas, até que a resposta a uma carta de amor chegasse.

Evoluímos ou retrocedemos? Não sei essa resposta. Sou de uma época - não muito remota - em que os melhores amigos estavam por perto. Nos telefonávamos todos os dias, às vezes até mesmo sem assunto. Fato era que a linha telefônica era o meio que encurtava as distâncias, mesmo quando as tarifas eram exorbitantes. Depois veio a internet discada, o ICQ, o mIRC. Velhos tempos.

Aliás, ICQ ainda existe? mIRC acho que não mais. Aos mais novos, explico: eram sistemas rudimentares, mas que tinham o mesmo princípio das salas de chat (também empoeiradas na era do imediatismo) e do Messenger. Só que, ao invés de fotos, trocávamos números. Às vezes falávamos com pessoas de longe, que nem conhecíamos, por meses. E tudo isso, sem conhecer o rosto de quem estava do outro lado da tela, porque também não havia scanner ou câmeras digitais. A imaginação era o elo entre a realidade e a fantasia que criávamos.

Hoje essa fantasia, esse "criar o ser ideal" já não existe. A troca de afinidades e de imagens é instantânea. Se não agradou, um "block" resolve tudo. E que venha o próximo perfil! Estamos conectados, querendo ou não, 24 horas por dia. Não bastava o MSN, o Twitter, o Facebook e tantas outras redes, veio também o 3G, a banda larga mobile. Hoje, você não faz mais amigos. Você adiciona. Os laços não se criam pela convivência, pelas afinidades dia após dia, e sim pelos "amigos em comum" e pelas aparências - nem sempre fiéis - que se põe nos perfis on-line.

Nesse contexto cibernético, cheio de abreviações e caracteres que traduzem sentimentos e feições, até mesmo o antigo "ficar de mal" mudou. Quando eu era criança e brigava com algum coleguinha, era comum dizermos: "- Belém, belém, nunca mais eu 'tô' de bem". E assim era dada a pausa na amizade. Por dois, três dias. Não durava mais que isso, em geral. Chegava a ser engraçado, confesso.

Hoje a história é outra. Se fulano diz coisas com as quais não concordo, "block" nele. Me irritou com muitas mensagens repetidas? Deixo de seguir. Se a amizade não está mais tão interessante, basta "parecer invisível" para não dar motivos para o outro puxar assunto. Tudo se resume a ações frias, automáticas. Um clique e fim de papo.

Acho que estou envelhecendo. Então, antes que pareça um ser apocalíptico, daquele que deseja o retorno dos mimeógrafos, do papel almaço e dos telegramas fonados, como se o passado fosse mais saboroso do que é o hoje, é melhor ficar offline. T+, blz?

Um comentário:

  1. Excelente desabafo, se assim posso dizer. Acho que tem muita gente por aí tentando dizer tudo o que está no texto, mas, não consegue mais se desligar do mundo virtual. Parabéns!!

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