
Existindo desde que o mundo é mundo, essa tal de paixão é capaz de nos cegar. Seja quando nos apaixonamos por alguém, seja quando o encantamento se dá por um ideal. Os sintomas se repetem e, tomados de forte arroubo, defendemos o objeto idolatrado desmedidamente. Cegueira traiçoeira, nos venda os olhos com um trapo que só nos deixa um facho de luz. Justamente aquela luz quente, que aquece o coração.
Os apaixonados, ah, os apaixonados... não admitem críticas a qualquer coisa que esteja próxima de seu altar. Fagulhas incendeiam campos outrora tranquilos, pecadores se transformam em santos inveterados. Não os culpem, eles não conseguem avaliar a dimensão de seus atos. Tomados de sentimento, é como se o corpo se prolongasse para além dos limites, como se o outro - o ser amado - fosse também um pedaço seu. Conhecem e admitem, tão somente, o que sentem - o que os conquista, encanta e transforma.

Paixão é coisa boa, não dá pra viver sem. Mas como a cólera, é precisa ser freada. Por mais difícil que seja, requer rédeas e freios. Pulso firme e racionalidade. Como fogo em pneus, ela atinge ápices, queima, deixa rastro que dá pra ver de longe. Mas é inevitável: passado algum tempo, a paixão vai enfraquecendo, a fumaça rareando, e ela cessa. Em seu lugar, ficam as cinzas.
Nem sempre restam apenas cinzas meu caro. Existem paixões que surgem para limpar o caminho e preparar o terreno onde se semeará o amor.
ResponderExcluirBelo texto.