

Ela veio ainda pequena das distantes terras de Cachoeiro de Itapemirim. Inquieta, desde menina corria os morros da cidade cantarolando Carlos Gardel, e se enganavam os que achavam que pode detrás da cabeleira loura se escondia um anjo. Andréia tinha um desejo oculto: levar o mar até a Terra do Rei Roberto. Como geografia não se muda, ela infiltrou-se na Capital, formou uma gangue de mulheres bronzeadas e há mais de dez anos aguarda o momento exato para dar o golpe de Estado. Será que ela conseguirá ampliar os domínios de Cachoeiro até onde batem as ondas do mar, em Camburi?

Ela é misteriosa. Chegou há pouco ao condado das cacheadas e guarda um grande segredo do passado: a cacheada morena já teve uma passagem pela polícia. Terá sido ela uma delegada? Uma foragida? Dizem que ela é uma agente disposta a desarticular o esquema da Estadista do Itabira, para evitar que Cachoeiro, terra fresquinha e pacata, herde uma praia sem quiosques. Ou será que ela usará suas informações privilegiadas na área policial para desmascarar os criminosos do colarinho branco?

Mulher de fibra, mulher de coragem, Ednalva vestiu a toga por cima da peixeira e está disposta a vencer o mal. Na infância, a menina moça das serras capixabas aquecia as mãozinhas na fogueira antes de ir para o grupo escolar, com tantas outras criancinhas ingênuas. Mas o calor do fogo não era maior que o ardor de seu senso de justiça. Ednalva quer mais, muito mais. Quer vênias, recursos e jurisprudências para se transformar na guardiã da moralidade e da conduta ilibada. Quem entrar em seu caminho arcará com os rigores da lei.

Ela faz o estilo femme fatale. Sapatos altíssimos nos pés (vermelhos, claro), cabelos cor de ouro com corte desestruturado, Vera se transforma num furacão toda vez que entra no carro. No porta-luvas, um Veuve Cliquot: ela gosta de dirigir perigosamente pelas avenidas de Cariacica e corta a BR-262 sem tirar o pé do acelerador. Aclamada pelos lojistas e invejada pelas loiras lisas sem pedigree, ela carrega no nome o peso do poder: Ferraço. Dizem as más línguas que foi dela a ideia de uma máquina de fazer chover em Cachoeiro de Itapemirim. Seria esse também um dos motivos que trouxeram Andréia à Capital: ela quer vingança, pois toda vez que passava no Centro de sua terra natal, tinha os óculos molhados graças à engenhoca ferracista.

Ela nasceu em Vitória e desde pequena queria ser famosa. Madeixas esvoaçantes, sorriso no rosto, pavio curto. Por trás dos olhos de calmaria, se esconde uma mulher que estremece Vitor, seu fotógrafo oficial e amante misterioso. Ele faz um tipo Clark Kent, com óculos à Superman; ela usa da leveza que aprendera no balé para desfilar pelos corredores do poder e sambar na cara de quem a tem como meiguinha e boazinha demais. Mariana é uma mulher de artimanhas: faz voz melosa e sorri aparentemente ingênua para saber tudo que se passa nos bastidores da sociedade capixaba.
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